Muito ainda se vai falar e escrever sobre Dom Jaime, o jacarandá, na definição precisa
do padre Orivaldo Robles. Não tem como se contar a história dessa cidade, sem
que esteja no centro de qualquer narrativa o primeiro bispo dessas paragens.
Mais do que pastor, líder religioso de uma imensa comunidade católica, Dom Jaime
era a essência do ser humano, com suas qualidades, defeitos, coerências e paradoxos. Aqui liderou a Marcha da Família com Deus
pela Liberdade , um explodir de
manifestações públicas contra as reformas de base do presidente João Goulart.
Mas aqui, também fez coro aos que defendiam a democracia e questionavam com
dureza a desigualdade social.
Ficou amigo dos militares, não por conta da marcha mas por razões outras
que ele nunca contou publicamente. Homem de personalidade forte e um poder de persuasão
incrível, Dom Jaime teve participação
ativa no processo de desenvolvimento do município. Contribuiu de maneira
decisiva com a vocação de cidade universitária que Maringá tem hoje. Tanto
que o próprio prefeito Adriano Valente (+) ao lado de quem abraçou causas coletivas
de peso, reconhecia a importância do arcebispo no processo de criação da UEM.
A liberação da concessão do primeiro canal de televisão de Maringá teve
participação direta de Dom Jaime. Os empresários Samuel Silveira e Joaquim
Dutra recorreram à “Sua Excelência Reverendíssima” para
ajudá-los a conquistar a concessão do Canal 8. Dom Jaime foi a Brasília e voltou com o sim
do general-presidente da ocasião, salvo engano, Emilio Garrastazu Médici. Não
por acaso tornou-se sócio minoritário da emissora, mais tarde vendida ao grupo
RPC (Chico Cunha e Lemansk) .
Mesmo diante da resistência da Rede
Globo em alterar sua grade de programação, Dom Jaime conseguiu manter por
longos anos o espaço diário da Arquidiocese, que era ocupado todas as manhãs
(de segunda a sexta) por ele e por alguns
padres mais próximos da Cúria.
Em períodos eleitorais, candidatos que se julgavam em condições de ganhar a
prefeitura tinham como compromisso inadiável da sua agenda, sessões “beija anel”
com Dom Jaime, cujo apoio, às vezes até explícito, podia significar vitória ou ao
contrário, derrota para quem enfrentasse sua oposição.
Trabalhei na Folha do Norte numa época
em que o jornal fundado por Dom Jaime estava arrendado para a Dutra &
Assis (sociedade formada pelo empresário
Joaquim Dutra e o jornalista A. A. de Assis). Com discrição, Dom Jaime dava o tom da linha editorial do matutino, que
naquela época reunia em sua redação verdadeiras feras do jornalismo local, como
Ivens Lagoano Pacheco, o próprio A.A de Assis, Antônio Calegari, Kester Carrara
e os irmãos Ismael e Elpídio Serra.
Enfim, detalhar a riqueza biográfica de
Dom Jaime Luiz Coelho só mesmo em livro, como fizeram Everton Barbosa e Luciana
Penha . Mas qualquer análise sobre ele, por superficial que seja, não pode deixar de lado o episódio da construção da Catedral, que o
levou a se explicar perante o Núncio Apostólico.
A construção da
Catedral foi um ato de fé, coragem e
visão futurista. Dom Jaime se inspirou no primeiro foguete lançado ao espaço, vejam só, pelos soviéticos,
em 1957. E com determinação espartana, levou o projeto adiante, junto com a
comunidade católica local, por ele convocada. Quem se atreveria a dizer não a
Dom Jaime Luiz Coelho?
Assim, da persistência
e disposição inesgotável do primeiro bispo e primeiro arcebispo de Maringá,
surgiu esse importante símbolo da fé católica e cartão postal da cidade que se fez
canção. Grande Dom Jaime! Depois de fazer tanto por tantos aqui na terra, creio
que subiu ao céu e deve estar confortavelmente sentado à direita de Deus Pai.
Comentários
Ele é o "Cara". A figura mais importante de Maringá, em todos os tempos! Adeus ao grande homem Jaime.