Acaba
de ser lançado mais um livro sobre as privatizações do governo FHC. Depois do
sucesso que fez A Privataria, de Amauri Ribeiro Júnior, está nas livrarias,
também sem cobertura da mídia tradicional, “O Príncipe da Privataria”, de
Palmério Dória, o mesmo autor de “Honoráveis Bandidos”. Num país sério , que
não joga sua sujeira para debaixo do tapete, seria nitroglicerina pura.
Por falar em privataria, que faz
lembrar outros escândalos da
república, o livro de Palmério Dória
reaviva a nossa memória para o “mensalão” e nos remete a um passado também
recente que foi o a compra de parlamentares promovida pelo governo tucano de
Fernando Henrique visando a aprovação da emenda da reeleição. A propósito desse episódio, que a grande
imprensa fez questão de esquecer, a jornalista Maria Inês Nassif , do sitio
Carta Maior,dá uma ligeira refrescada na memória dos que não tem mais sequer
uma vaga lembrança dessa tungada: pelo
menos 150 parlamentares teriam vendido seus votos a R$ 200 mil por cabeça. Três
deles tiveram suas confissões publicadas pela Folha de São Paulo, com base em
gravações obtidas pelo jornalista Fernando Rodrigues. Colocados esses valores na ponta do lápis, somando-os com os
prejuízos de uma privatização que concentrou renda privada no país, o “mensalão”
do PT é fichinha. Diz Maria Inês:
“Nos dois casos – do governo Fernando
Henrique e no escândalo maior do governo Lula, o Mensalão – os jornais
denunciaram. A diferença para os dois períodos, todavia, foi a forma como a
mídia enxergou os desmandos. No caso da compra de votos para a reeleição,
jornais e tevês consideraram satisfatória a ação da Câmara, que cassou o
mandato de três deputados que confessaram, para o gravador oculto de Fernando
Rodrigues, terem recebido dinheiro para votar a emenda da reeleição. Ao
escândalos relativos à privatização foram divulgados muito mais como denúncias
de arapongagem – escutas ilegais feitas por inimigos do prograa de doação do
patrimônio público a consórcios formados com dinheiro do BNDES, fundos de
previdência das estatais e capital estrangeiro (em menor volume, mas com
direito a controle acionário), do que propriamente indícios de ilícitos do
governo”.
Enfim, meus caros e minhas caras, “em
1994 consolidou-se um bloco hegemônico em torno de um governo. O que aconteceu
de 2002 para cá é que a unidade em torno do governo não existe mais, mas a
hegemonia das outras instituições se impõe sobre os poderes instituídos pelo
voto. O bloco hegemônico é o mesmo, exceto pelo governo e pelo Congresso, que
dependem do voto popular. A unidade se faz em torno da mídia – que nega o que
escreveu na última década do milênio. Dois pesos e duas medidas viraram uso
corriqueiro por este bloco. Por isso é tão simples cunhar frases do tipo “nunca houve um governo tão corrupto” para
qualquer um posterior ao período do tucano, que vai de 1995 a 2002. E por isso, essa
simplificação não pode ser pedagógica: não reconhecer que há uma corrupção
estrutural no sistema político é uma forma de mantê-la inalterado. E quando um
presidente do bloco hegemônico for
eleito, poderá usar esse sistema político atrasado, com o pretexto de
“modernizar” o país, pagando o preço que ele cobrar”.
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