Houve um tempo em que
se viajava muito de trem. A viagem era demorada, mas segura e, dependendo da
classe, prazerosa. Mas hoje a realidade
é outra. E sendo outra, a discussão em torno do trem “Pé Vermelho”, perde o sentido, na medida em
que é levada inteiramente para o campo da demagogia. Isso, pela simples e boa
razão de que antes de se reativar esse trem de passageiros do Norte do Paraná é
preciso incrementar o sistema de transporte ferroviário de carga no Estado,
começando pela modernização dos vagões que, como se vê quando passa um comboio
da ALL, estão caindo aos pedaços.
Investir no transporte
ferroviário é coisa da modernidade, porque é um transporte eficiente e infinitamente mais barato de que
o rodoviário. Por isso, acho que o Brasil andou na contramão da história nas
últimas décadas, principalmente a partir
dos anos 1970, quando , no período do “milagre”, construiu a Ferrovia do Aço e pouco mais tarde (1982/1985), a Estrada de Ferro Carajás.
Agora , a passos de
tartaruga, caminhamos para ter a Norte Sul
e a Ferronorte, com tentativas, ainda tímidas, de
expansão dos trilhos em pelo menos mais 1,8 mil km pelos estados de Pernambuco,
Mato Grosso, Tocantins e Goiás. Nossa malha ferroviária chega (ainda) perto dos
30 mil km, boa parte inoperante. É menos do que
tínhamos nos anos de 1950, quando o Brasil chegava próximo dos 40 mil
km, mesclando trens cargueiros com trens de passageiros.
Pouca importância se dá ao fato, mas o custo
do transporte rodoviário é muito alto para o país, sem contar que pouco
eficiente. Quantos caminhões são necessários para levar para o Porto de
Paranaguá a mesma quantia de soja que
leva uma composição férrea? Não sei, mas quem é da área certamente sabe que são
centenas, talvez milhares e a custos
sabe-se lá quantas vezes maior. Portanto, antes de
levantar a bandeira do trem de passageiros, as lideranças locais e
regionais deveriam, primeiro, questionar a qualidade do sistema de transporte
ferroviário de cargas, totalmente sucateado. E só não está pior graças a alguns
grupos empresariais que se uniram para comprar vagões da China e melhorar as
condições de acondicionamento dos produtos que exportam, via Porto de Paranaguá.
Questionar a privatização
absurda que fizeram da RFFSA, mandando-a para o arquivo morto da
história, isso ninguém quer . E sabe por que? Simplesmente porque não é tema
que rende dividendos eleitorais. Já o “Pé Vermelho” dá bons argumentos para
serem desenvolvidos no palanque eletrônico. É de bom alvitre, por tanto, que a demagogia
do trem de passageiros seja substituída pela defesa sincera de um projeto de
modernização do transporte ferroviário de carga. E aí sim, a discussão do resgate histórico do trem de
passageiros no Norte do Paraná fluiria
naturalmente.
Só a
título de curiosidade: o fantasma de uma
invasão argentina no período que antecedeu a II Guerra Mundial assombrava os
militares brasileiros. Isso explica a bitola estreita nas ferrovias do sul do Brasil . Ela decorre,
portanto, do medo existente de que
os argentinos pudessem invadir o nosso País via trem, já que lá a bitola é
larga.
Por falar nisso, alguém
se lembra do que aconteceu com a estação ferroviária de Maringá, por onde
chegaram sonhos e de onde partiram desilusões? A Ferroviária , local de
desembarque de muita gente que para cá veio fazer história, foi simplesmente
demolida, como ocorreu com a rodoviária velha, jogada no chão a golpes de
insensatez.
Bem, mas eu estava
falando de trem, de transporte ferroviário. Fiz este parêntese só para não
dizerem que não falei das flores, daquelas flores que estariam embelezando o
Novo Centro de Maringá caso a febre imobiliária e o conceito distorcido de
modernidade de gestores estúpidos , não
houvessem assassinado o projeto original
de Oscar Niemayer que previa, para o trecho Herval/São Paulo, um grande jardim, concebido por Burle Max.
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