O jornalista Rodrigo Viana, repórter da Record e
blogueiro (O Escrevinhador ) narra uma
conversa que teve em junho com um
advogado paulistano, segundo ele “ bem-sucedido, com
sólida formação acadêmica (é também professor de Direito), sócio de um
escritório na região da avenida Paulista e que votou no Aécio Neves:
“A conversa aconteceu num encontro social privado, há alguns dias, antes
portanto da prisão de José Dirceu. O advogado, a quem conheço há mais de 30
anos, tem na sua carteira de clientes alguns empreiteiros. Um deles está em
prisão domiciliar, por causa da Lava-Jato, e algumas semanas atrás foi obrigado
a depor algemado em Curitiba – como forma de pressão.
“Um homem de quase 60 anos, franzino, que não oferece nenhum risco
físico às autoridades, foi obrigado a depor algemado durante várias horas, sob
alegação de ameaça à segurança do delegado“, contou. Eis aqui um resumo do que relata
Rodrigo Viana sobre a conversa:
“Todos advogados que trabalham na
Lava-Jato estão assustados. Mas quase todos temem enfrentar abertamente Sergio
Moro. O juiz de primeira instância – com suas soturnas camisas pretas (ôpa,
Itália dos anos 20 e 30!) acompanhadas de gravatas também escuras – virou uma
espécie de intocável. Montou uma operação que – mais do que respeitada – é
temida por todos que atuam no Judiciário.
“É uma espécie de estado islâmico judicial, onde tudo é permitido;
afinal há um objetivo final que é sagrado: combater a corrupção”.
Algumas delações premiadas já chegam prontas, feito matéria da “Veja”:
primeiro o editor escreve, depois o repórter acha alguma coisa que corrobore a
tese. “Eles trazem a delação e dizem ao preso: você assume
isso aqui? Sabemos que você sabe, fica mais fácil pra você”.
Mas o que explicaria essa voracidade, voltada não contra todos os
corruptos, mas contra o governo (PMDB e PT são os alvos, com o PSDB poupado)?
Não haveria uma operação tucana, uma conexão com a mídia?
Minha fonte, que votou em Aécio sob o argumento pragmático de que “o
Brasil e a Dilma não vão aguentar o que vem por aí na Lava-Jato; se o Aécio
ganhar, isso tudo estará pacificado” (foi essa, mais ou menos, a frase
dele em outubro de 2014, quando nos reunimos num jantar a poucos dias do
segundo turno), está convicto de que a guerra santa promovida por Moro tem um
alvo: o ex-presidente Lula.
“O Lula ainda não é a bola da vez, mas é a cabeça que os meninos de
Curitiba querem sangrando numa bandeja”, disse o advogado. Segundo ele,
muitos réus foram indagados nas últimas semanas sobre o que sabiam do “peixe
grande”.
A conversa que narro nesse post aconteceu durante um encontro com 6 ou 8
pessoas, em São Paulo. Um dos presentes, que não é advogado, indagou: “então,
caminhamos para uma grave crise institucional?
“Não”, respondeu o advogado. “Não caminhamos. Já estamos em plena
crise”.
E a prisão de Lula então é inevitável, dada a inação do PT e do governo?
“Avaliação política eu deixo por sua conta” [o advogado
disfarça, mas é também um arguto observador político]. “O que posso dizer é na seara jurídica:
posso apostar com você que até o fim do ano vão tentar prendê-lo; vai
depender da postura do STJ e do STF nos HCs pendentes”.
Ou seja: Moro precisa ter certeza que não vai passar vergonha, mandando
prender Lula, mas tendo sua decisão revogada em 24 horas, num tribunal
superior.
Lembremos que Vargas, em 1954, estava na iminência de ser preso pela
República do Galeão, e por isso tomou a medida extrema em 24 de agosto.
Espero que não caminhemos para o mesmo desfecho. Politicamente, Vargas
salvou o trabalhismo com um tiro no peito. Foi o suicídio que salvou seu campo
politico.
Dilma, até aqui, com sua inação, de certa forma faz o caminho inverso.
Preserva-se pessoalmente, mas leva todo o campo político do lulismo e do
trabalhismo para um suicídio político.
E Lula? A reação não pode mais levar semanas, ou meses. Acordos
“pelo alto” (com a banca e a elite empresarial) não vão adiantar. Vargas era
estancieiro, e foi pro cadafalso. Por que poupariam o metalúrgico nordestino?
Moro não vai parar. Ele é o estado islâmico judicial”.
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