O poeta
é um fingidor. Finge tão completamente
Que
chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
Esta primeira estrofe da “autopsicografia” de
Fernando Pessoa é perfeita para o festival de fingimentos de nossos políticos
nas últimas horas deste começo de semana.
Os campeões do fingimento foram os líderes da
oposição, que mais uma vez defenderam o afastamento de Eduardo Cunha da
presidência da Câmara, considerando gravíssimas as denúncias contra ele. Desta
vez não houve nota, só uma entrevista coletiva. Mas lá dentro, no plenário, na
frente de Cunha, não deram um pio, nem quando cobrados ao microfone por Chico
Alencar, líder do PSOL. Em verdade, segue a oposição dando sustentação a Cunha
em troca do eventual acolhimento do pedido de impeachment de Dilma, mas pensa
que engana com notas e declarações fingidas.
Bons fingidores foram também Dilma e Cunha na troca
de farpas que protagonizaram, ruim para os dois. Ele fingindo não ser “um
brasileiro” com contas na Suíça, replicando lamentar o maior escândalo de
corrupção do mundo em “um governo brasileiro”. Ela assegurando que seu governo
não é acusado de nada e ele dizendo que não sabia que a Petrobrás não era parte
do governo. Pano rápido e encerraram a querela porque nenhum dos dois tem nada
a ganhar com ela.
Mau fingidor foi o presidente do Conselho de Ética
da Câmara, José Carlos Araújo (PSD/BA), com a história de que precisa de mais
um tempo regimental para dar sequência ao pedido de cassação de Eduardo Cunha
apresentado por Rede e PSOL. Agora, só em novembro, disse ele. E olhe que
Araújo vem garantindo que Cunha será tratado como qualquer outro deputado da
Casa.
Fingiu mal o líder do PT, Sibá Machado, quando
tentou explicar porque seu partido não pedia também o afastamento de Cunha, tal
como fingiu fazer a oposição. “Estamos focados no ajuste fiscal”.
E fingiu muito mal a CPI da Petrobrás, com seu relatório
que não pediu o indiciamento de nenhuma autoridade.
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