A uma pessoa
que se queixou do nível da Câmara dos Deputados, o saudoso Ulysses Guimarães respondeu
simplesmente : “ Então você espere a próxima que vai ser bem pior”. Os fatos
tem mostrado que esta foi quase uma profecia do “Senhor Diretas” . A atual é
sempre pior do que a anterior e a próxima será pior do que atual. Isso vale
não só para a Câmara Federal, mas vale também para as assembleias legislativas
e câmaras municipais. Basta pegarmos o exemplo de Maringá, onde vivemos . Quer
Câmara pior do que essa? Então espere a próxima.
Como evitar
essa degradação moral e intelectual dos nossos poderes legislativos? Não há
fórmulas mágicas, mas é preciso que o Congresso Nacional dê um passo decisivo
na direção da reforma política que o país precisa. Tudo bem que não dá pra
esperar mudanças profundas por quem pouco interesse terá de alterar alguma coisa.
Ainda mais que a indignação que se vê nas ruas se direciona exclusivamente à
Presidência da República e ao partido da presidente. A população não consegue compreender o significado de um parlamento repleto de Cunhas e Dulcídios e nem atentar para o fato de
que é sempre deletéria, a atuação de bancadas disso e bancada daquilo, que ela elegeu imaginando estar qualificando melhor o nosso parlamento quando, ao contrário, está é oxigenando o espírito de corpo. Um exemplo claro disso é a chamada bancada evangélica que, de tão conservadora, joga todas as suas fichas no atraso. E, ainda pior, a "bancada da bala", liderada pelo paranaense Francischini, que não faz outra coisa a não ser atuar na contra-mão da história, com discursos de permanente incentivo à cultura da violência.
Vamos
admitir que o Congresso casse a presidente Dilma. Quem assumiria, caso o
processo não atinja o seu vice? Sim, ele mesmo, Michel Temmer, o grão-mestre do
PMDB, partido que tem Cunha e uma pá de deputados iguais a ele. E aí, como
imaginar que o Brasil melhora com o impeachment ? Mesmo que Temmer seja impedido, teríamos uma
eleição extra , presidida por ninguém menos que Dias Tóffoli
ou, provavelmente, por Gilmar Mendes,
que deverá ser o próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Uma
alteração parece urgente para que o país comece a tornar menos pior a
composição das câmaras municipais. Seria, na avaliação de políticos sérios
(acredite, eles existem) e analistas comprometidos apenas com a ciência social, o fim das coligações proporcionais e
o estabelecimento de cláusulas de barreira contra a proliferação de siglas
partidárias de aluguel.
Não seria uma panaceia, mas havendo essas mudanças
já para 2016, com certeza a composição dos poderes legislativos municipais
melhoraria um pouco. E teria influência também nas eleições majoritárias,
porque são as siglas de aluguel que acabam viabilizando candidaturas e até
vitórias de concorrentes fichas sujas a
prefeitos. E o que dizer da distribuição de cadeiras no legislativo ditada
pelos critérios da proporcionalidade? Ao votar em Fulano e eleger também Ciclano
e Beltrano , o eleitor acaba mandando
para a Câmara de Vereadores quem ele nem conhece ou às vezes conhece, e por
conhecer, não confia.
Comentários