O eterno problema da destinação do lixo de Maringá. A Prefeitura está propondo uma terceirização que já se sabe, cheira mal pra burro
A produção de lixo urbano cresce dia a dia, às vezes em
proporção geométrica, mas o reaproveitamento, pelo processo de reciclagem não
sai do lugar aqui em Maringá, onde a
coleta seletiva, que caminhava timidamente até 2004, passou do “ritmo
tartaruga” para a “marcha do caranguejo” a partir da gestão Silvio Barros II.
Estudos de especialistas ligados ao Fórum Municipal do Lixo mostram que Maringá
trata apenas 8% do lixo urbano coletado, apesar da administração municipal
sustentar que o tratamento chega a 40%, o que sinceramente, nem o mais ingênuo
dos maringaenses acredita.
Mesmo com tanto problema para ser resolvido e com essa
pauta há tanto tempo travada, o prefeito Roberto Pupin , que todo mundo sabe ,
se move por orientações e determinações do chefe do Clã, Ricardo Barros,
decidiu voltar à carga com um novo (e
extemporâneo) projeto de terceirização da coleta e destinação dos resíduos
sólidos. Antes já havia retrocedido em outras investidas na mesma direção, aí
incluindo a incineração, torpedeada até pela Igreja Católica.
Até agora, as tentativas de terceirização foram todas
frustradas e pelo jeito não será diferente com essa, que prevê gastos
superiores a R$ 30 milhões por ano. E
olhem só: os envelopes já começaram a ser abertos, mas a coleta propriamente
dita só se daria a partir de 2017. Sendo assim, por que isso agora, quase às
vésperas da eleição municipal? Estranho, né, seu Dedé?
Hoje o Observatório Social ocupou a tribuna livre da
Câmara para mostrar aos vereadores o absurdo do contrato que está sendo
engendrado no Paço Municipal. Os R$ 30,4 milhões seria só para coletar parte do
lixo urbano. Não inclui, por exemplo, restos de construção e nem o lixo
hospitalar, que fazem parte de outros contratos, cujos valores não são nada
desprezíveis, passam dos R$ 15 milhões/ano. Está fora também o lixo deixado
pelas feiras livres, bem como a limpeza dos locais, que a Prefeitura chama de
desinfecção. Aí vai mais uma tantada por mês, seguramente cerca de R$ 300 mil, segundo dados apresentados pela
presidente do Conselho Administrativo do Observatório Social, advogada Fábia dos Santos Sacco.
O vereador Humberto Henrique apresentou
hoje a tarde na sessão da Câmara um estudo financeiro que realça bem o
descalabro da proposta de terceirização da coleta e destinação do lixo urbano
de Maringá. De acordo com os cálculos feitos por ele, que é contabilista, a contratação vai custar, em cinco anos, R$
100 milhões a mais do que custaria a execução dos mesmos serviços diretamente pela
gestão pública. É mole? Como diria o macaco Simão: “É mole mas sobe”.
Com essa diferença, daria, segundo
Henrique, para a Prefeitura remunerar melhor os servidores municipais que
correm atrás dos caminhões coletores e além disso com o dinheiro economizado
até o final de um contrato como esse, com duração de 60 meses, é possível
construir 1.500 casas populares, ou 50 postos de saúde ou, 40 CMEIS – Centros Municipais
de Educação Infantil , mais conhecidos como creches.
Tem outro aspecto que o Observatório e
nem o vereador enfocaram, mas que vale a pena ser observado. É o seguinte: no
mínimo 90% do lixo domiciliar coletado nas ruas e avenidas de Maringá são
recicláveis. E lixo reciclável é dinheiro. Alguém imagina que a empresa
ganhadora da concorrência vai jogar dinheiro pela janela? Se criar um sistema
de separação e reaproveitamento , pode ganhar tanto quanto lhe renderá o
contrato , que deverá ser objeto de ação do Ministério Público.
Enfim, o projeto é ilegal , pelo que
sustenta com argumentos muito consistentes a presidente do OS e é imoral, segundo
gritam da tribuna da Câmara os vereadores Humberto Henrique, Mário Verri,
Dr.Manoel e Ulisses Maia . Até Flávio Vicente, que dizem será uma espécie de
plano B de Ricardo Barros nas eleições de outubro, critica a terceirização, não
por ser contra ela, mas por discordar da forma como está sendo feita.
Em tempo: pra não dizer que não falei
das flores, um dos assuntos tratados hoje no Pequeno Expediente da sessão
ordinária do Legislativo maringaense,
foi a incursão do GAECO no obscuro processo de prorrogação do contrato
de concessão à TCCC que a gestão Pupin/Barros- Barros/Pupin fez, esticando por
mais 30 e lá vai pedrada de anos o monopólio do transporte coletivo urbano de Maringá. “Isso
é caso de polícia”, discursou Mário Verri, que não tem nenhuma dúvida de que
tanto o monopólio da TCCC quanto o obscuro processo de terceirização do lixo, ainda vai feder. E
muito.
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