É natural que após uma eleição majoritária de ânimos
tão acirrados como foi esta do segundo
turno em Maringá todo eleitor se ache um analista político e queira encontrar
explicações plausíveis para o resultado final. Também me julgo nesse direito, e
até com base na minha vivência em campanhas, ouso dar os meus pitacos, indo um
pouco além do senso comum.
Começando pelo começo, a ascensão de Ulisses Maia
guarda uma certa semelhança com a de José Cláudio. Claro que o momento
histórico é outro e os pontos coincidentes
são mínimos, podendo ser contados nos dedos da mão. Um desses pontos é o fato de
ambos terem disputado uma eleição de
prefeito antes e de ninguém acreditar no início das respectivas campanhas
vitoriosas que ambos fossem
para o segundo turno.
Na eleição de 2000, Zé foi vítima de muita baixaria,
arquitetada pelo apresentador Ratinho
que, vamos lembrar, vinha de São Paulo para abrir o saco de maldades em nome de um ingênuo Dr.
Batista. Claro que Dr. Batista deve ter
se arrependido da besteira que fez,
tanto que no segundo turno da eleição de 2004
desembarcou na campanha de João Ivo Calef, dizendo alto e bom som que
estava caindo nos braços do PT.
Dessa vez , foi o comandante do grupo político que
administra a cidade desde 2005 quem fez o
papel de Ratinho. Deu tudo errado como
se viu no resultado das urnas. Bater do PT , tentando desmoralizar
figuras respeitáveis como Humberto Henrique e Carlos Mariuci, com o propósito de atingir por tabela o candidato do PDT foi um tiro no pé.
Mas a derrota do grupo dos Barros, liderado por
Ricardo, não se explica apenas a partir
do festival de baixarias. Há dois aspectos importantes a serem
considerados. Um, acho que o principal, é o da fadiga de poder. Afinal, 12 anos
de mando absoluto produz um desgaste gigantesco. Ainda mais que não se
trata apenas de um grupo político, mas de uma família com ligeiros traços oligárquicos
.
O eleitorado,
afinal, identificou quão maléfico é a concentração de poder nas mãos de uma só
pessoa. Sim, porque até os macacos do Bosque 2 sabem quem é que
manda na administração municipal
desde 2005. E sabiam também, quem realmente estava por trás de tudo o que
acontecia na campanha de Silvio Magalhães Barros II.
O outro ponto muito importante a ser considerado é o
potencial do próprio Ulisses, que afinal de contas, não caiu de pára-quedas.
Desde que se elegeu vereador em 20012 com uma votação expressiva (foi o mais
votado daquele pleito), Ulisses vem palmilhando as ruas de Maringá, visitando bairros, conversando com as pessoas
e pavimentando a estrada que o levará à
cadeira de prefeito, salvo engano o 17º
da história do município, aí incluindo os dois vices que assumiram a
titularidade – Sinclair Sambatti e João Ivo Calef.
Quanto ao fato dele ter estado no primeiro escalão
da administração Silvio, isso não o
desqualificou como oposição. Como bem observou o historiador Reginaldo Dias,
Ulisses significou a vitória da dissidência. Ele se desgarrou do grupo
hegemônico lá atrás, e durante quase todo
o seu segundo mandato de vereador constituiu-se em
pedra nos sapatos do prefeito Pupin e seu tutor. Vale a lembrança de que dissidentes
costumam dar certo . No caso em questão,
Ulisses Maia vem reforçando no
eleitorado a convicção de que ele será sem dúvida uma agradável surpresa.
O tempo dirá.
Comentários