. Por Ricardo Kotscho (Balaio do Kotscho)
Por onde andarão os patos amarelos da Fiesp que enfeitavam as avenidas
paulistanas e a Esplanada dos Ministérios em Brasília durante os protestos do
ano passado contra a corrupção e o aumento de impostos?
Em lugar deles, agora podem ser encontrados moradores de rua molhados
por jatos d´água pelo serviço de limpeza urbana da Prefeitura de São Paulo no
dia mais frio do inverno, segundo noticiou a rádio CBN.
Com o anunciado aumento do imposto nos combustíveis a partir desta
quinta-feira, será que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, agora vai soltar os
patos enfurnados em algum porão?
Até o fechamento desta edição, Skaf ainda não tinha se manifestado sobre
o aumento da taxação de PIS e Cofins na gasolina e no diesel, que vai provocar
um efeito cascata nos preços de toda a cadeia produtiva.
Pelo zap-zap no celular, o prefeito João Doria atribuiu a molhação de
roupas e cobertores dos mendigos a um "descuido" dos funcionários e
recomendou "mais cuidado nos serviços de limpeza".
Até por uma questão humanitária, nestes dias gelados na cidade, talvez
seja o caso de fazer uma nova parceria público-privada, tão ao gosto do
prefeito, para ceder o albergue dos patos da Fiesp aos sem-teto, já que os da
Prefeitura não tinham mais lugar.
Às quatro e meia da tarde, segundo a Folha, 15 pessoas aguardavam na
fila do lado de fora para tentar entrar no centro de atendimento instalado
próximo à praça Princesa Isabel, no centro.
No mesmo dia, a Prefeitura anunciou a inauguração de uma nova unidade de
acolhimento com 460 vagas.
Como acontece diariamente nos Estados Unidos de Donald Trump, há duas
versões opostas para o mesmo fato:
* Prefeito João Doria: "Por uma circunstância, molharam alguns
cobertores das pessoas em situação de rua. Jamais profissional, seja da
Prefeitura ou terceirizado, jogou jatos d´água nas pessoas. Essa é uma
mentira".
* Daniela Batista de Oliveira, 28 anos, moradora de rua: "É uma
humilhação isso aí, e no maior frio. A gente estava dormindo e chegaram jogando
água. Eles molham todo mundo, não estão nem aí. Depois quem morre é a gente, e
não eles, que têm as casas e os empregos deles".
* José Carlos dos Reis, 59, morador de rua da praça da Sé: "Os
termômetros estavam marcando menos de 10 graus. Vieram tirar barraca, jogaram
água cedinho, começaram a brigar para não levar os pertences. O prefeito tinha
que dar uma assistência melhor".
Na noite anterior, um morador de rua, até agora não identificado, foi
encontrado morto de frio em Pinheiros, na zona oeste, sem marcas de violência.
Segundo a Prefeitura, as empresas de limpeza foram notificadas
"para que apurem se houve intercorrência" e foi feita a distribuição
de mais de mil cobertores em várias regiões da cidade.
Ao levar cobertores pessoalmente, à noite, para a região da Estação
Marechal Deodoro do metrô, o prefeito Doria foi hostilizado por um grupo de
moradores de rua que o chamaram de "assassino", relatam os repórteres
Guilherme Seto e Giba Bergamim Jr., da Folha.
Em Brasília, para evitar que o deficit fiscal ultrapasse o rombo de R$
139 bilhões previsto no orçamento deste ano, o governo estuda também o aumento
da Cide, outro imposto sobre combustíveis.
Enquanto isso, com o Congresso em férias, o PMDB de Michel Temer e o DEM
de Rodrigo Maia disputam o espólio do PSB, o antigo Partido Socialista
Brasileiro.
E vida que segue.
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