Saiba porque uma provável fusão da Embraer com a Boeing seria um crime de lesa pátria contra o Brasil
É
o ponto de vista do especialista no assunto, Pedro Celestino, presidente do
Clube dos Engenheiros
“A Embraer detém hoje mais de 50%
do mercado mundial de aviões de médio porte, os de até 130 lugares, o que lhe
dá robustez financeira para os investimentos na área de defesa.
A principal concorrente da Embraer é a canadense Bombardier, que acaba
de vender 51% do programa da Série C à Airbus, dando a esta a possibilidade de
oferecer ao mercado uma série de produtos mais completa que a da Boeing. Esta,
pressionada pela nova realidade do mercado, luta para fazer uma parceria com a Embraer.
Nesse quadro , qual a melhor linha de ação para a Embraer?. As hipóteses aventadas são as seguintes:
1. Venda do controle à BOEING – impensável, pois implicará o desmonte do
esforço tecnológico acumulado nas últimas 6 décadas, levando à desativação de
inúmeras indústrias e ao desemprego de milhares de profissionais qualificados;
2. Venda da divisão comercial, preservando a EDS, unidade da área de
defesa – não se sustenta, pois uma das fontes de financiamento da EDS, as
vendas de aeronaves comerciais, deixaria de existir; ademais, o programa do
novo caça da Força Aérea, o Gripen, seria prejudicado, pois a Saab sueca tem
acordo de transferência de tecnologia com cláusula de confidencialidade com a
Embraer, e não com a Boeing;
3. Parceria tecnológica e comercial com a Boeing – é a união da panela
de barro com a panela de ferro, o que levará a Embraer a ser inexoravelmente
absorvida pela Boeing em pouco tempo, a menos que sejam garantidas salvaguardas
muito restritivas e não passíveis de desbordamento.
Nenhuma delas atende ao interesse nacional.
A Embraer, pelo papel que desempenha em nossa economia, é estratégica
para o país, e tem plenas condições de enfrentar qualquer concorrente, se puder
colocar os seus produtos com as mesmas taxas de financiamento que as suas
rivais oferecem, apoiadas que são pelos bancos de fomento dos seus respectivos
países.
Para tanto, é indispensável a ampliação de linhas de crédito do BNDEs às
suas vendas e, em particular, para que a renovação da frota comercial de
atendimento ao mercado doméstico também possa ser feita com aeronaves da
empresa.
Não há outra razão plausível para que o nosso mercado, a menos da
operadora Azul, seja atendido apenas por aeronaves produzidas pela Boeing e
pela Airbus, o que acarreta desnecessário dispêndio de divisas com contratos de
leasing internacionais.
As operadoras aéreas devem, portanto, ser incentivadas a adquirir
aeronaves da Embraer, o que é facilmente justificado pela excelência de seus
produtos mundialmente reconhecida.
Parceria comercial e tecnológica com a Boeing ou outra grande empresa da
indústria aeronáutica pode até ser feita, desde que não implique cessão
acionária que repercuta no desenvolvimento da empresa.
É oportuno relembrar que a Embraer, no passado, teve a francesa Dassault
como sócia e, enquanto durou aquela participação, a Dassault tentou impedir o
ingresso da Embraer no mercado da aviação executiva, por temê-la como
concorrente”.
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