. Renato Rovai
De um lado, Lula, Chico Buarque, o ator Chico Dias, Haddad, Reinaldo,
ex-centroavante do Atlético, Afonsinho, que também foi jogador e médico como o
doutor, e outros craques de todas as artes.
Do outro lado, o time dos amigos do MST, onde os destaques eram João
Pedro Stédile e João Paulo.
O juiz, Juca Kfouri. Aquele que com humor e ironia vem há
décadas denunciando as mazelas do futebol brasileiro. E ao mesmo tempo
reverenciando com seu texto fino alguns craques da bola.
Juca foi amigo de Sócrates como poucos. E na inauguração do campo de
futebol que leva o nome do Magrão, estava lá não só para apitar a
partida, mas para após a benção de Frei Beto, dar o seu recado.
“Sócrates não ficaria tão feliz se o Maracanã mudasse de nome, se o
Pacaembu mudasse de nome, se a Arena Corinthians mudasse de nome para
homenageá-lo. Nada o deixaria tão feliz de dar seu nome a um campo numa escola
chamada Florestan Fernandes e administrada pelo MST.”
E foi uma tarde de felicidade. Eram quase mil pessoas para celebrar
aquele momento. Onde uma parte da esquerda brasileira não
referenciava apenas um ícone da bola, mas o movimento social mais relevante das
últimas décadas, o músico mais fantástico que a MPB conheceu e um craque da
política que está sendo perseguido da forma mais abjeta.
O jogo, segundo a querida Maria Frô, parecia uma disputa de grávidos.
Maldade pura. A despeito da saliência abdominal, alguns se destacaram. Chico
Dias, por exemplo, fez um partidão, e cruzou uma bola na medida para que o
craque Reinaldo, ao seu melhor estilo, inaugurasse o placar.
O time do MST apertava, mas Haddad, um tanto quanto desajeitado, dava
conta na zaga. No meio campo, Chico lembrava Sócrates. Esperava a bola
chegar e clareava o jogo, com um toque sutil.
E de repente, num lançamento, Stédile vai com a perna como uma foice e
derruba Reinaldo. Pênalti, apita o juiz.
Juca Kfouri é muito claro com a goleira: se ela se mexesse, ele
mandava repetir. E Lula coloca a mão na cintura, dá três passos, e chuta…
Fraco, tão fraco que a goleira nem precisou se mexer.
Mas quem disse que isso era um problema. Kfouri, inspirado em Moro, viu
irregularidade no lance e o pênalti teve de ser cobrado de novo.
E na segunda vez foi mais claro com a goleira se ela se mexesse ou não,
mas a bola não entrasse, ele voltava o lance de novo. E e a bola foi parar nas
redes. Gol do Lula para alegria da torcida.
O craque tirou a camisa e foi comemorar com a galera. Era o que faltava
para ser expulso. Mas quando ia saindo o coro de volta Lula foi
mais forte e o companheiro ainda voltou para jogar mais um pouco.
Mano Brown, Trajano, Dexter, Genoino, Carol Proner, vários deputados e
senadores, estavam do lado de fora. Assistindo e sendo assistidos por muitos
que queriam uma selfie.
Foi um dia de festa que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira
de Oliveira mais do que merecia viver. Mas que mesmo não estando por aqui, por
esses cantos da terra, fez outros viverem.
O campo do MST foi inaugurado numa véspera de Natal há 31 dias de
distância do julgamento de Lula. Foi um encontro de resistência, mas
também de afeto. Foi um sábado memorável, diria o cronista de futebol.
Parabéns MST! Sócrates vive!
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