“Estão
ensaiando uma valsa na beira do abismo” (Ciro Gomes, ao saber do acordo entre
PT e PSB na quarta-feira)
Marília Arraes, candidata ao governo de
Pernambuco, que vinha fazendo uma bela campanha popular, era a única nova e
forte liderança do PT nestas eleições.
Quem mais perdeu com o acordo entre PT e PSB,
que sacrificou a candidatura de Marília, não foi Ciro Gomes, como a maioria dos
jornais e analistas avaliaram nesta quinta-feira.
Foram Lula e o PT, que rifaram o futuro do
partido.
O maior golpe foi no principal patrimônio
deste partido que eu vi nascer das bases operárias do ABC paulista e acompanhei
até a chegada ao poder, em 2003: a sua militância.
Para chegar lá, o partido enfrentou um monte
de obstáculos, ganhou e perdeu muitas disputas, acertou e errou, mas procurou
sempre se manter fiel às suas origens, dando orgulho aos anônimos militantes
que empunhavam suas bandeiras.
Isso acabou. Que petista vai querer agora
fazer campanha pelo partido de graça, sacrificando horas de estudo ou de
trabalho, enfrentando adversários nas ruas, ouvindo xingamentos, arriscando-se
por uma causa que perdeu a razão de ser?
Em lugar de orgulho, é mais provável que agora
estes militantes sintam vergonha de defender um partido incapaz de bancar suas
novas ldieranças contra os velhos caciques aos quais se aliou nos últimos anos.
O que fizeram com Marília Arraes é tão grave e
vergonhoso para a história do partido como aquela foto trágica de Lula e
Fernando Haddad, na campanha municipal de 2012, pedindo apoio a Paulo Maluf,
justo ele, o velho antagonista dos petistas, nos jardins da mansão dele, todos
eles sorridentes.
Não tenho a menor ideia dos
motivos que levaram a direção do partido a fazer este acordo para o PSB ficar
neutro nestas eleições e se afastar de Ciro Gomes _ este sim, um antigo e fiel
aliado do PT.
Quem ganha com isso? Com a desmobilização da
militância petista, a justa ira e o isolamento de Ciro, fragmentando ainda mais
o campo da esquerda, e a insistência em levar a candidatura de Lula até o fim,
a ferro e fogo, pagando qualquer preço, quem ganha é a direita, que se uniu em
torno de Geraldo Alckmin, e o candidato das trevas, Jair Bolsonaro.
Do jeito que as peças ficaram colocadas no
tabuleiro da eleição, corremos agora o risco de repetir a França e promover um
inédito embate entre direita e extrema-direita no segundo turno.
O sacrifício de Marília Arraes no altar das
conveniências de momento vai cobrar um alto preço no futuro, colocando em risco
a própria sobrevivência do PT como maior partido de massas do país e da América
Latina.
Comentários