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A caminho do abatedouro


                                                                                 Cristina Serra, na Folha
                    



No auge da pandemia no Brasil, o que fazem governadores e prefeitos? Jogam a toalha, vencidos por pressões econômicas e pela campanha de sabotagem permanente empreendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Relaxam a quarentena —que sempre ficou longe do ideal— e oferecem carne fresca ao vírus insaciável.
Como chegamos até aqui? O roteiro foi escrito pelo sabotador-geral da República. Alguns exemplos: “gripezinha”, “resfriadinho”, “todos nós iremos morrer um dia”, “e daí?”, “quer que eu faça o quê?”, “não faço milagre”, “vai morrer muito mais se a economia continuar sendo destroçada por essas medidas”, “um bosta do prefeito faz a bosta de um decreto, algema e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse (sic) armado [o povo], ia para a rua”. Por fim, a incitação ao crime: “Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar”.
A população pobre teve enorme dificuldade de cumprir as regras de isolamento social não porque goste de bater perna nas ruas à toa, mas porque milhões de brasileiros, por assim dizer, vendem o almoço para pagar o jantar ou vice-versa. Confinar as pessoas em casa teria sido possível se o governo tivesse a capacidade de distribuir o auxílio emergencial a quem realmente precisa, com boa vontade e presteza. Mas, não. Milhões de necessitados ainda não conseguiram sequer se cadastrar enquanto milhares receberam indevidamente, inclusive militares. A incompetência do governo federal é evidente também na falta de testes para a população, o que dificulta projeções sobre a doença.


Comentários

Lucio Roberto disse…
Estou impressionado com esta moça, Cristina Serra. Acho que, pela primeira vez no país, um jornalista ,coloca preto no branco a realidade dos fatos e descreve o comportamento criminoso do monte-de-merda que ocupa a presidência.
Anônimo disse…
Enquanto Presidente, governadores e prefeitos continuarem com as picuinhas deles isso vai continuar indefinidamente... Teria que todo mundo se unir e fechar tudo por 2 mes pelo menos e fazer milhões de testes... Se não vai morrer muita gente ... é vergonhoso o que eles estão fazendo liberando tudo.
Zé disse…
A Argentina e o Brasil tinham o mesmo número de casos nas primeiras semanas de fevereiro. Hoje, a Argentina tem um pouco mais de 400 mortes enquanto o Brasil acumula mais de 40 mil mortes. Parabéns ao povo argentino por eleger seus representantes com sabedoria e informação.

A Argentina está em lockdown desde 20/03 e na maioria de suas províncias já iniciou a retomada econômica o que mostra que a medida foi correta. Houve um trabalho em equipe entre o governo federal e os governadores das províncias liderados de forma eficaz pelo presidente. Não se pode comparar nosso país a Argentina, mas em termos de população podemos compara-la com o estado de São Paulo. Fazendo isso verão que se não respeitarmos #fiqueemcasa não retomaremos a economia.
Renata disse…
O mundo só começou a pensar em retomar atividades quando as mortes e o número de novos casos começaram a cair e se mantiveram em queda. Não é o caso aqui! Parece mais que o governo reconhece que não tem peito de tomar medidas mais duras e se desgastar!
Rodrigo disse…
Os sinais, fortes sinais, estão realmente nos céus. Parece ter se formado a "tempestade perfeita" contra o bolsonarismo, a saber:
a) os índices da Covid-19, como esperado, voltaram a acelerar rapidamente sua ascensão após as inúmeras "aberturas" atabalhoadas no Brasil e a performance do governo federal passou do ridículo ao desastroso, com nenhum político de primeiro escalão aparecendo mais nos raros boletins de saúde, explodindo no mundo a leitura do governo mais despreparado e desqualificado da pandemia;
b) o setor de serviços teve queda de 11,7% em abril, o pior índice desde 2011, levando os ratos mais espertos a abandonar o navio (caso de Mansueto Almeida) e encaminhando o que será certamente conhecida como a recessão do Bolsonaro; e
c) a justiça está apertando a torquês sobre os elos fracos da família e do governo, sem dar sinais agora de que vá tentar alguma conciliação com um governo que provocou, de maneira debochada e truculenta, os membros mais elevados do Judiciário ao seu limite do tolerável e não percebeu que haviam começado as tratativas de substituição do núcleo palaciano intratável por outro mais ao gosto do complexo financeiro-empresarial, que se vê em patamar social bem mais elevado que a súcia miliciana que ascendeu ao poder. O tapete do poder escapa-lhe dos pés e fora dele há a sombra da prisão para si e para os seus.
A base de sustentação do bolsonarismo nunca foi homogênea, quem verdadeiramente lhe conferiu acesso ao poder já bateu ou está batendo em retirada, pronto a trocá-lo por alguém que saiba usar talheres e crie menos celeumas. De sua base pessoal, resta apenas o pilar da força das armas, que ele poderá perder em parte se houver um rufar de tambor econômico forte o suficiente para enquadrar as tropas, que obedecem a quem lhes garante o melhor soldo. Só os malucos dos acampamentos não têm força para sustentar ninguém. O único problema está no posicionamento das PMs, que estão a cada dia mais descontroladas ao ver sua mais completa tradução no Executivo perdendo poder de fato, e podem não aceitar quietas uma perda definitiva da força que passaram a ter. Esta é a última centelha no isqueiro bolsonarista capaz de incendiar o país, resta saber se ele saberá acendê-lo. Ou se os bombeiros saberão controlar o fogo, tirando-lhe a chance que lhe resta.
Carlos disse…
Resumindo: acabou....vamos tratar da vida espiritual porque a vida material acabou....não adianta chorar nem fingir q não tá acontecendo nada...já era.

Me parece que ha muitas pessoas incrédulas que isso possa ser uma gripezinha ou coisa sem maior importância; leiam um pouco do passado no mundo e verá quantas pessoas se foram por outras pandemias.
Irineu disse…
A reportagem do diário Washington Post resumiu a confusa reação do Brasil à pandemia do coronavírus, graças acima de tudo ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores:

Não houve um lockdown nacional. Nenhuma campanha nacional de testes. Nenhum plano acordado. A expansão dos cuidados de saúde foi insuficiente. Em vez disso, as cidades mais atingidas estão abrindo as portas para shoppings e igrejas, mesmo quando o país registra rotineiramente mais de 30.000 novos casos por dia — cinco vezes mais do que a Itália no auge de seu surto.

Com 45.585 mortos por coronavírus até agora — quando o presidente Jair Bolsonaro falava em, no máximo, 800 –, o Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos em mortos por coronavírus no final de julho, diz o artigo:

O Brasil está em uma trajetória para registrar mais de 4.000 mortes por dia e ultrapassar os Estados Unidos em infecções e mortes até o final de julho, segundo pesquisadores da Universidade de Washington.

De acordo com a reportagem, o Brasil está seguindo uma trajetória inusitada:

Tendo decidido se abrir apesar do consenso científico de que não deveria, o país está seguindo um caminho que até agora apenas a Suécia tentou deliberadamente navegar — mas de uma maneira muito menos tática e metódica. Em alguns bolsões do país — particularmente no Norte — um quarto das pessoas desenvolveu anticorpos para a doença. Se a imunidade do rebanho ocorrer em qualquer país, isso pode acontecer primeiro no Brasil.

Ouvido pelo Washington Post, o cientista norte-americano faz a pergunta que assusta:

“A questão é: onde isso vai dar?”, Disse Theo Vos, professor de ciências da saúde da Universidade de Washington cujos modelos são usados ​​pela Casa Branca. “Pode ser que no Brasil você possa começar a atingir a saturação, onde tantas pessoas na população estão em contato com o vírus que ele começa a diminuir”. Ele fez uma pausa. “Mas isso tem um preço enorme. É o tipo de situação que aconselhamos os governos a tentarem evitar. Não temos outro exemplo de onde, no momento, parece mais sombrio.”
Anônimo disse…
GOVERNO DE MILICOS ,eles agem como se estivessem no campo de batalha (estes fardados ,só nos virtuais,já que só servem para torturar e assassinar indefesos).
O mulão explica isso num vídeo,se trata de fazer uma "aproximação",um avanço,amanhã o outro,depois o terceiro e assim até ter o "inimigo" (neste caso,a democracia) cercado.
Só que os primatas saudosistas da ditadura ,desprezam o fato do mundo de 2020 ,não ser o de 64.
Após tanto ameaças de "vou te bater,vou te bater" ,a gente fica ciente que nunca baterão,porque será o fim deles.
Voltem para os quartéis ,e já não saiam mais.
Ernesto disse…
E o Queiroz foi preso....
Anônimo disse…
Um recadinho para um certo senhor que diz que a festa acabou, que não há mais microfones amestrados:

Caro senhor, assista ao vídeo da cobertura da Jovem Pan da prisão do Queiroz.

Especialmente a parte em que eles falam que a rachadinha do PT movimentou milhões, e a do Flávio, supostamente apenas 600 mil…

E eu pensava que ladrão era ladrão, que não tinha como justificar um crime dizendo que outros cometeram o mesmo crime…

Agora a gente mede o tamanho do crime, e não o crime em si?
Os dois são crimes, até onde eu sei…
Irineu disse…
Reinaldo Azevedo na Folha de S. Paulo

O governo Bolsonaro acabou. A reforma da Previdência, único marco que ficará destes dias, durem quanto durar, é, na verdade, herança do governo Temer, que só não conseguiu aprovar o texto porque teve de enfrentar o lavajatismo golpista e de porre de Rodrigo Janot. Isso à parte, sobra pregação golpista. E só.

Quanto tempo o “mito” ainda fica por aí? Não sei. Mas é “um cadáver adiado que procria”, para lembrar verso de Fernando Pessoa em caso bem mais nobre. E qualquer coisa que venha à luz, nessas circunstâncias, será necessariamente ruim.

Não temos mais um presidente, mas um refém do fundão do centrão. À medida que a sociedade vai saindo da clausura a que a condenou o coronavírus, cresce o preço político para manter o corpo na sala. Até a hora em que os próprios apoiadores resolvem enterrar o malcheiroso.

Lembram-se do “tchau, querida” de Lula, ao se despedir de Dilma, naquela gravação feita e divulgada ilegalmente por Sergio Moro? Esqueçam o mérito. Fixo-me nas palavras. Elas se transformaram numa espécie de emblema da derrocada do governo. Era também uma senha entre os que defendiam o impeachment.
Bolsonaro já tem os dois vocábulos imortais que servem para carimbar seu fim. E saíram de sua própria boca, em um dos habituais acessos de fúria. Falando a seguidores no Alvorada, deu a entender que, a partir daquele momento, passava a ter o comando das vontades do STF. Vociferou para o TIH (Tribunal da Ironia da História): “Acabou, porra!”.

Pois é… Acabou, porra!

A partir de agora, não há mais como o presidente se ocupar do governo. Enquanto estiver por aí, vai ter de pagar, às custas do futuro do Brasil, o preço para que não se formem os 342 votos na Câmara que o empurrariam para julgamento, e condenação certa!, no Senado por crime de responsabilidade.

Aqui e ali, as pessoas se espantam: “Caramba! O Fabrício Queiroz foi se homiziar justamente no sítio de Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaros, que tinha estado no Palácio do Planalto no dia anterior, a convite do presidente, na posse de Fábio Faria, o ministro que simbolizaria a disposição para o diálogo?”.

Meus caros, vocês queriam o quê? De Goethe a Max Weber, estamos diante de uma derivação das chamadas “afinidades eletivas”. A Operação Anjo, no âmbito da qual Fabrício foi garfado, é uma referência ao apelido de Wassef entre os Bolsonaros: anjo. Eles todos devem saber por quê.

Queiroz foi preso no dia seguinte àquele em que Bolsonaro negou a democracia três vezes. O dia 17 de junho entrará para a história. Logo de manhã, o presidente anunciou às portas do Alvorada, referindo-se a magistrados de tribunais superiores: “Eles estão abusando. Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. À noite, foi ainda mais sombrio: “É igual uma emboscada. Você tem de esperar o cara se aproximar”.

Na sequência, foi arriar a bandeira em companhia do comandante do Exército, Edson Leal Pujol, que caía, ele sim, numa emboscada. Entre uma ameaça e outra, fez a mais grave de todas as afirmações desde que assumiu. E justamente na posse do novo ministro.

Nas barbas de Rodrigo Maia e Dias Toffoli, presidentes, respectivamente, da Câmara e do STF, o mandatário evocou as forças do caos: “Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer. É o povo que diz o que as instituições devem fazer”. Essa é a divisa dos tiranos, não dos democratas. “Povo”, para Bolsonaro, ele já deixou claro, se resume às suas milícias digitais e àqueles que comungam de seus, vá lá, valores, que ele chama “conservadores”, numa distorção miserável do sentido da palavra.

É o passado policial de Bolsonaro que põe fim a seu governo, ainda que o cadáver fique por aí. Mas o que já o impedia de governar é a sua absoluta incompreensão do que é a democracia. Sim, novas ameaças de autogolpe virão nos próximos dias. É de sua natureza.

Bolsonaro quer que acreditemos que os generais podem botar os tanques nas ruas para unir a história das Forças Armadas à de patriotas como Fabrício Queiroz.

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