Ao dizer, ainda que em tom de blague, que não invadiria a casa de Bolsonaro porque ela é improdutiva, dando a deixa para que sua claque gritasse “Bolsonaro preste atenção, sua casa vai virar ocupação” , Guilherme Boulos torna-se um importante cabo eleitoral do candidato da bala. Somando fatos como este à falta de um discurso mais afirmativo do candidato Fernando Haddad, eis que se consolida o cenário eleitoral que a direita mais almejava. Assim , Bolsonaro vai avançando na desarvorada trincheira inimiga, por onde passeia como Pelé e Garrincha passeavam pelas defesas gringas na Copa de 1958.
Impressiona a forma como Bolsonaro vem transformando mentiras em verdades, sem que o candidato do PT consiga se contrapor a elas. No máximo queixa- se das fak news, mas sem conseguir desarmar as minas que o adversário vai colocando meticulosamente em seu caminho. Haddad insiste na sua narrativa acadêmica e civilizada, quando civilidade é tudo o que parece não atrair a atenção de um eleitorado seduzido pelo discurso tosco e ameaçador.
Tudo piora quando se constata que a campanha do petista se isola no petismo, sem conseguir agregar , como seria natural, todo o campo progressista. A culpa dessa fragmentação é dos partidos e lideranças do espectro mais comprometido com o estado do bem estar social? É também, mas não só. Também , porque o momento é de formação de um dique de contenção ao avanço do nazifascismo no Brasil. Não só, porque o PT construiu esse isolamento lá atrás, na fase das articulações partidárias. Foi ali, de uma cela da Polícia Federal em Curitiba, que seu principal líder comandou, egoisticamente, o processo de construção de alianças para uma campanha que já se previa, de satanização da esquerda.
Agora, a coisa chegou num ponto que não há mais conserto, até pela exiguidade do tempo. Evitar a eleição de Bolsonaro, com um percentual de votos acima de todos os prognósticos, é tarefa quase impossível . Só um fato novo de extraordinária relevância seria capaz de promover uma reversão de expectativa.
Como fato novo não creio que surgirá, Bolsonaro segue em ascensão, relativizando suas manifestações de ódio e promessas de violência contra os adversários, que não são nada prosaicas, como prosaico quis ser Guilerme Boulos, no seu espasmo de sandice.
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