. Tereza Cruvinel (Jornal do Brasil)
As advertências sobre o risco Bolsonaro para a democracia não são
choro antecipado de perdedor, artifício de petistas desesperados para virar o
jogo.
O democraticídio virá, não
apenas porque condiz com a natureza autoritária do deputado-capitão, mas porque,
se eleito, não será capaz de dar outra resposta aos impasses que enfrentará.
Os avisos vêm até dos que
ajudaram a semear o antipetismo, um dos mais fortes nutrientes da candidatura
favorita.
Outros, que poderiam falar mais
alto, justificam a omissão com a bazófia de que, ainda que ele tente, nossas
instituições terão força para evitar qualquer ruptura.
Em 1964 também tínhamos
instituições que pareciam funcionar, mas elas não apenas cederam ao primeiro
movimento de tanques.
Elas ajudaram a executar a
parte civil do golpe. Bolsonaro e seu entorno, a começar do vice troglodita,
nunca esconderam o pendor autoritário e a saudade da ditadura, nos elogios da
tortura e nas homenagens ao grande torcionário, Brilhante Ustra.
E sempre expôs com sinceridade
brutal seus preconceitos contra mulheres, gays e negros.
A partir de 2013, a nostalgia
da ditadura foi legitimada pelos manifestantes que passaram a pedir intervenção
militar.
E ele foi crescendo, como
estuário de ressentimentos, do antipetismo, do incômodo dos conservadores, das
vítimas da recessão, dos revoltados com a corrupção (insuflados pela Lava Jato)
e dos ansiosos por uma promessa de segurança.
Militares já no poder
Já está em curso uma tomada de
poder pelos militares, facilitada por Temer, ao nomear um general para a Defesa
e fazer de outro homem forte palaciano.
O presidente do STF, Dias
Toffoli, também arranjou um general para chamar de seu.
Um grupo de militares ligados à
campanha de Bolsonaro atua com toda desenvoltura em Brasília, elaborando
projetos de infraestrutura e desenhando a ocupação do governo.
Militares e policiais eleitos
para a Câmara formarão uma bancada importante.
Foi percebendo a militarização
do poder que o guarda de Campinas disse ontem, ao prender estudantes que
panfletavam por Haddad: “a ditadura militar voltou, graças a Deus”.
Então, é lorota esta conversa
de instituições que vão resistir. Elas já estão em frangalhos.
E ainda que o capitão, se feito
presidente, seja forçado ao comedimento pelo banho sagrado do voto popular,
outros fatores o empurrarão para soluções autoritária, tais como seu
indiscutível despreparo para governar, sua inaptidão para lidar com os cânones
do presidencialismo, que pressupõem a divisão do poder com o Congresso.
O que ele fará quando sofrer a
primeira grande derrota parlamentar?
Daqui para o dia 28, debate não
haverá, como se depreende da grosseira resposta que ele deu ontem a Haddad, por
rede social: “quem conversa com poste é bêbado”.
Nesta linha, falando das
famílias que buscam os corpos dos mortos no Araguaia, ele já disse que “quem
procura osso é cachorro”.
Sem debate, receberá um cheque
em branco, em relação à democracia e às políticas que adotará.
Ignorante confesso de economia,
delegará os problemas a seu “posto Ipiranga”, o economista Paulo Guedes, já
previamente nomeado ministro da Economia (uma superpasta que Collor também
entregou à sua superministra Zélia Cardoso de Mello).
Por ser um neoliberal extremado
é que o mercado abraça Bolsonaro.
Para resolver o problema da
dívida pública, Guedes quer uma privatização generalizada, vai manter a emenda
que congela o gasto público e proporá reformas tributária e previdenciária.
Bolsonaro terá que entregá-las.
Seu PSL elegeu 52 deputados,
fazendo a segunda maior bancada, mas para aprovar uma emenda constitucional
serão necessários 308 votos.
Será preciso buscar 256 voltos
em negociações com os partidos mas ele já disse que não negocia, não barganha.
Em algum momento, haverá
trombada. Direitos serão suprimidos, ele já avisou, e haverá resistência nas
ruas, ninguém duvide. E ele vai mandar as tropas, ninguém também duvide. Não
enxerga quem não quer os sinais do que virá.
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