Kennedy Alencar
Marcar a votação da
cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para uma segunda-feira, dia 12
de setembro, no meio das eleições municipais, é uma clara articulação para
facilitar a vida do ex-presidente da Câmara.
Será um escândalo realizar essa
votação num dia de baixa presença no Congresso Nacional. Como são necessários
257 votos dos 513 deputados para que Cunha seja cassado, essa data é um
presente para o peemedebista e um tapa na cara da sociedade diante da
quantidade de acusações graves que pesam contra ele.
Mais: mostra que o governo e boa
parcela da Câmara temem segredos que Cunha possa tornar públicos. Aprovar o
impeachment de Dilma e dar a Cunha a chance de escapar confirma o uso de dois
pesos e duas medidas e reforça a tese de um golpe parlamentar contra a petista.
É inusual marcar a votação para
uma segunda-feira, porque cassações são geralmente votadas às quartas, dia de
maior quórum no Congresso. Aliás, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), está quebrando uma promessa de votar a cassação num dia de presença
alta no plenário, a fim de evitar que seja responsabilizado por eventual
salvação de Cunha. Maia mudou o discurso pressionado pelo governo, que não
assume isso publicamente, e por líderes partidários comprometidos com os
segredos que dividem com o ex-presidente da Câmara.
Marcar a votação da cassação para
depois do impeachment de Dilma permitirá o discurso de que seria melhor
deixá-lo responder às acusações da Lava Jato com o mandato de deputado federal
a fim de não criar tumulto na economia. Deixar Cunha como um problema apenas do
Supremo Tribunal Federal é uma covardia da Câmara dos Deputados.
Essa votação deveria ter sido
marcada para esta semana ou para a próxima, como sugeriu Rodrigo Maia quando se
elegeu presidente da Câmara. Mas ele deu sinais de que embarcou na articulação
para salvar Cunha.
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