Ele não fez reforma
agrária, nunca leu Marx, mas perseguiu marxistas no seu primeiro governo, ao
ponto de entregar Olga Benário aos
nazistas para morrer numa câmara de gás na Alemanha de Hitler. Em 1937 apavorou
o país com a história da Intentona, que
levou o povo a acreditar que uma
invasão comunista ameaçava o Brasil. Objetivo: dar o golpe, que culminaria com a ditadura do “Estado Novo”.
Apeado por um contra-golpe,
mercê do enfraquecimento do “Estado Novo”
em 45, Vargas voltou ao poder pela força das urnas em 1950. Deixou como legado avanços sociais significativos,
que fizeram dele um mito da política brasileira.
Getúlio Vargas criou
a Petrobras, o BNDES e uma política consistente de fortalecimento do mercado
interno, por meio principalmente do incremento
do salário mínimo, por ele instituído. Não sem antes equilibrar as relações
capital e trabalho por meio da CLT.
Getúlio acabou vítima de
uma pesada onda de acusações e ofensas, que não poupava sua família e quem quer
que dele estivesse próximo. Basta lembrar que Lutero, seu irmão, era tratado pelos
jornais de bastardo e ladrão. A João Goulart, ministro do trabalho , reservavam
adjetivos nada republicanos, como
cafajeste e personagem de boate.
Carlos Lacerda, que
carregava o estandarte da UDN, queria
enterrar o trabalhismo e mandar para as profundezas do inferno as conquistas sociais
dos trabalhadores. Principal algoz do presidente, comandou contra Vargas uma campanha difamatória como nunca antes
vista.
Um dia tentaram matar
Lacerda. Acusaram Vargas de ser o mentor, mas nunca ficou provado o
envolvimento pessoal do presidente no chamado crime da Rua Toneleiros. Mas a
versão que ficou foi a de que o atentado , decisivo para a campanha
anti-Vargas, foi obra do ajudante de ordem do presidente, chamado Gregório Fortunato.
Foi a gota d´água para
que o país desencadeasse no coração do “velho” um sentimento de total
impotência para lidar com aquela
situação. Logo ele, tão duro, de personalidade tão forte e tido como homem de
têmpera, acabou fraquejando e ao
sentir-se num beco sem saída, tirou a própria vida com um tiro no peito.
O clima de revolta foi
grande. A população, inconformada com o suicídio devastador para o país, foi
para as ruas e, porta-vozes da oposição passaram a ser perseguidos pelas ruas
do Rio de Janeiro, capital da república. A imprensa não teve como fugir
dos fatos e noticiou com o destaque que as circunstâncias impunham, fotos de
multidão consternada e enfurecida cercando a rádio Globo e hostilizando os
demais veículos de comunicação da família Marinho.
Carlos Lacerda, que era
chamado de “O Corvo”, teve que fugir num cruzador, para longe da costa
brasileira porque, se escapou do atentado da Toneleiros, da fúria popular não
haveria de escapar.
O que isso tem a ver com o momento
atual? Nada e tudo ao mesmo tempo. Comparar esse momento histórico com aquele
parece absurdo, mas algumas coincidências são visíveis. A UDN não morreu, é o tronco da árvore genealógica de partidos
como o PSDB, DEM e outras siglas
identificadas com a fisiologia. Não
temos um Carlos Lacerda, mas vários lacerdinhas, que montam verdadeiro arsenal para detonar, não um novo Getúlio, mas alguém que parece
representar projetos correlatos e que, no quesito agendas sociais, tem algo em comum
com o estanceiro gaúcho.
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