É evidente o desconforto dos comentaristas da TV Globo com a decisão do
presidente Temer, de permanecer na presidência depois de ter sido flagrado em
conversas mais do que suspeitas com o dono da JBS.
O desconforto da Globo nada tem a ver com aspectos éticos. Uma das
comentaristas, na Globo News, disse com todas as letras: “quanto mais essa
situação se prolonga, menor a chance de que a sucessão de Temer se faça pelas
regras atuais, ou seja, com eleições indiretas no Congresso”.
Mais claro que isso, impossível.
A permanência de Temer também atrapalha as “reformas” liberais de
destruição da Previdência e das leis trabalhistas. As votações serão
paralisadas nas próximas semanas, diante do caos na base governista. Se um novo
presidente fosse escolhido de forma rápida e indireta (sob a tutela da Globo e
do mercado financeiro), poderia adotar o discurso de um governo “técnico”
para tocar adiante o desmonte iniciado por Temer.
Mas não é só isso. Como narrou a preocupada comentarista global, Temer é
o maior cabo eleitoral das mobilizações que passam a pedir eleições Diretas-já
por todo o Brasil. Mais fácil pedir Diretas diante de Temer e de seu governo
apodrecido. Se a agonia do peemedebista se prolongar, a chance de que o
movimento popular cresça é maior.
Até porque será preciso pressão das ruas e articulação, no Congresso,
para votar uma PEC que permita a eleição direta do novo presidente, mudando a
Constituição.
Esse é o embate: Globo e mercado gostariam de ver Temer fora, e um novo
governo logo entronizado em escolha indireta. Mas as ruas e as redes tendem a
não engolir essa tese.
Pesquisas nas redes sociais mostram que a ideia de Diretas-Já não
mobiliza apenas a chamada esquerda. Mas ganha a maioria dos corações e mentes.
Essa é uma batalha que a Globo terá muita dificuldade em vencer.
Ainda mais se Temer fizer o favor de permanecer agarrado à cadeira (e
ele deve permanecer assim, porque fora do cargo, sem fórum privilegiado, vira
alvo fácil para possível pedido de prisão).
Essa a equação: por sobrevivência política, Temer tende a prolongar a
agonia. E isso ajuda o campo popular a construir uma agenda de Diretas-já ainda
em 2017.
Isso desarruma toda a estratégia da Globo e de seus aliados do Partido
da Justiça, que sonham em condenar Lula na segunda instância até o início do
ano que vem, para impedi-lo de concorrer em 2018.
Se a eleição for antecipada, Lula poderá disputar — e com boas chances
de vencer.
Por isso, contraditoriamente, hoje o grito “Fica, Temer” pode não soar
tão absurdo.
Um amigo lembrava a frase do velho Brizola: “quando estiver na dúvida
sobre o caminho a adotar, observe onde está a Globo; e escolha o caminho
oposto”.
A Globo hoje está no comando de um “Fora, Temer” confuso e pouco
consistente. O que mostra que, se o golpista ficar mais um pouquinho lá, isso
pode ser o suficiente para enterrar as “reformas” e permitir que as novas
eleições sejam Diretas já em 2017.
. Pinçado do blog Viomundo, do Azenha
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