Que pode ser explicado melhor a partir de Darwin de que de Freud
Ninguém fez com tanta precisão até
agora o retrato de Jair Bolsonaro como o colunista da Folha de São Paulo,
Josias de Souza faz hoje em seu blog no
UOL. Resumidamente, ele diz que a atração que o candidato exerce sobre parte
considerável do eleitorado brasileiro está , não na sua longa história de
deputado de vários mandatos, que nem merece registro, mas está no discurso do atraso.
Para se
saber melhor quem é este ser, que não veio de Marte, mas é figura carimbada da
política brasileira, e compreender, afinal, porque ele exerce tamanho fascínio
em tanta gente , Josias é cirúrgico:
“Bolsonaro é o efeito. A causa é a perpetuação de um sistema
político em que o Estado não tem homens públicos. Os homens públicos é que têm
o Estado. Ao perceber que paga mais impostos para receber menos serviços, o
pedaço Bolsonaro do eleitorado acha que o futuro era muito melhor antigamente,
quando os presidentes vestiam farda. Ao notar que o Supremo começou a soltar
larápios condenados, o lado Bolsonaro da sociedade passa a sonhar com um país
em que os tribunais não sejam a única maneira de se conseguir justiça.
Porta-voz do desalento, Bolsonaro capta no ar o sentimento que seu eleitorado
deseja expressar.
Na entrevista que concedeu ontem na capital cearense, como em
todas as outras, Bolsonaro agarrou as perguntas pelo colarinho como se enxergasse nelas a oportunidade de
reproduzir as respostas iradas que sua platéia espera ouvir. Questionado sobre
seus planos para deter o avanço das facções criminosas no país, o candidato
declarou-se adepto do modelo da Indonésia. Na Indonésia, traficantes
e consumidores de drogas são enviados para o corredor da morte. Mas Bolsonaro,
tomado pelas palavras, referia-se às Filipinas, onde a bandidagem é passada nas
armas sem a necessidade de uma sentença de morte formal. “Tinha dia de morrer
400 vagabundos lá. Resolveu a questão da violência”, afirma.
Ele condena o casamento de homossexuais, deplora a ideologia de
gênero nas escolas, prega o direito dos policiais de matar bandidos e chama
presídios superlotados de “coração de mãe”, onde sempre cabe mais um bandido. No
governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, Bolsonaro pegou em lanças contra a
política de privatizações e a abertura do mercado para a exploração de
petróleo. Nessa época defendeu diante das câmeras o fuzilamento do presidente”.
Recentemente Bolsonaro esteve na Rádio
Jovem Pan onde os entrevistadores fazem o entrevistado bailar, em uma hora de
entrevista que às vezes mais parece interrogatório. Bolsonaro se atrapalhou
todo quando foi instado a falar de economia e bem na linha do que sempre
defende, antecipou parte do seu programa de combate a violência no país, que
pode começar com lança-chamas pra cima de movimentos sociais como o MST e o
MTST e também contra educadores que , no Ministério da Educação, defendem o
Método Paulo Freire.
Enfim, Josias arremata, e não tem como
deixar de assinar embaixo: “Bolsonaro tornou-se um porta-voz do atraso nacional.Vivo,
Darwin diria que o brasileiro é mais uma prova do acerto da sua teoria
evolucionária. Evoluiu tanto que já está
fazendo o caminho de volta”.
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