. Janio de Freitas (Folha de São Paulo)
O lado de farsa do impeachment leva uma trombada forte. Na mesma
ocasião, a Lava Jato arrisca-se a comprovar o lado de farsa implícito na
acusação, feita por muitos, de que o seu alvo verdadeiro não é a corrupção, mas
Lula e o PT.
A conclusão do Ministério Público Federal sobre as tais
"pedaladas", fundamentais no pedido e no processo de impeachment de
Dilma Rousseff, recusa a acusação de constituírem crime de responsabilidade. Dá
razão à tese de defesa reiterada por José Eduardo Cardozo, negando a ocorrência
de ilegal operação de crédito, invocada pela acusação. E confirma a perícia das
"pedaladas", encomendada pela Comissão de Impeachment mas, com o seu
resultado, mal recebida na maioria da própria comissão. À falta de base da
acusação, o MPF pede o arquivamento do inquérito.
A aguardada acusação final do senador Antonio Anastasia tem, agora, a
adversidade de dois pareceres dotados de autoridade e sem conexão política. A
rigor, isso não deve importar para a acusação e o acusador: integrante do PSDB,
cria e liderado de Aécio Neves, Antonio Anastasia assinará um relatório que
será apenas como um esparadrapo nas aparências. Sem essa formalidade farsante,
não precisaria de mais do que uma frase recomendando a cassação, que todos
sabem ser seu propósito acima de provas e argumentos.
Mas os dois pareceres que se confirmam devem ter algum efeito sobre os
senadores menos facciosos e mais conscienciosos, com tantos ainda definindo-se
como indecisos. A propósito, as incessantes contas das duas correntes –o mais inútil
exercício desses tempos olímpicos– têm resultados para todas as iras, a
depender do adivinho de votações consultado.
Na Lava Jato, procuradores continuam falando de ameaças ao
prosseguimento das suas atividades. A mais recente veio de Washington. Não de
americanos, muito felizes com o pior que aconteça à Petrobras. É uma informação
renovada por Sergio Moro para um auditório lá: a menos que haja imprevisto,
dará o seu trabalho por concluído na Lava Jato antes do fim do ano.
Na estimativa de Moro está implícito que a corrupção na Petrobras
anterior ao governo Lula, ao menos na década de 1990, não será investigada.
Daqui ao final do ano, o tempo é insuficiente para concluir o que está em
andamento e buscar o ocorrido naquela época. Apesar das referências em
delações, como as de Pedro Barusco, a práticas de corrupção nos anos 90, pelo
visto vai prevalecer a resposta gravada na Lava Jato, quando um depoente citou
fato daquele tempo: "Isso não interessa" (ou com pequena diferença
verbal).
As gravações traiçoeiras de Sérgio Machado, embaraçando lideranças do
PMDB, ficariam como um acidente no percurso da Lava Jato. Moro, aliás, disse
parecer "que o pagamento de subornos em contratos da Petrobras não foi uma
exceção, mas sim a regra", no "ambiente de corrupção sistêmica"
do "setor público". Diante disso, restringir o interesse pela
corrupção a um período bem delimitado no tempo e na ação sociopolítica, sem
dúvida valerá por uma definição de propósitos.
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