Está para sair do forno um livro de memórias (e pensamentos
aleatórios) do Dr. Sócrates, um dos maiores jogadores de futebol que vi em ação
(ao vivo e a cores). Foi líder da Seleção de 1982, que não conquistou o tetra
mas deu show de bola. Politicamente correto, dentro e fora de campo,
Sócrates foi para as ruas defender as “diretas
já”, depois de comandar a democracia corintiana.
Falecido em 2011, vítima de uma cirrose hepática que adquiriu
em decorrência do alcoolismo, Sócrates vinha
escrevendo suas memórias nos últimos anos. Parece que conseguiu concluí-las.
Nas livrarias ainda este ano, a obra deve causar muita polêmica e mexer com os
brios de craques do passado, que o Dr. acusa
de omissão ante o regime de repressão
que vigorou na “república dos generais”,
Um dos mais criticados é o rei Pelé, que jamais levantou sua
voz para contestar a falta de liberdade daquele período. Nem Gerson, apelidado
de papagaio por falar demais, tomou qualquer posição. Nem mesmo quando o
presidente Médici “fritou” o técnico João Saldanha, a quem caberia os méritos
pela formação daquele selecionado mágico de 1970.
Saldanha comandou as “feras” nas eliminatórias de 1969, mas
caiu antes da Copa do México porque ousou bater de frente com o ditador de
plantão, que queria lhe impor a escalação do Dadá Maravilha.
Tudo bem que o Dadá fosse um goleador, mas no ataque formado
por Pelé, Tostão, Jairzinho e
Rivelino não podia mesmo ter lugar pra ele.
Por isso, Saldanha, o “João sem medo”, comunista emérito, foi afastado
do comando da seleção. Em seu lugar colocaram o Zagalo, que segundo dizem, não
comandou, era comandado por “feras” como Carlos Alberto Torres e Gerson, que
escalavam o time e o comandavam em campo.
Sócrates não se conformava com o fato dessa geração de ouro,
que o país admirava tanto, ter se calado diante de tanta tortura e de tanta
falta de liberdade no país. Aguardemos o livro para ver como vão reagir os criticados, Pelé inclusive.
Talvez nem reagirão e continuarão omissos com relação àquele período de trevas.
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