Na medida em que as ruas vão se esvaziando e os manifestantes se dispersando, fica na cabeça da gente uma grande interrogação: que movimento de massa é esse? Sem lideranças e sem um foco definido, o que se esconde por trás de palavras de ordem como “a democracia não precisa de partidos”? A destruição de bandeiras partidárias e os ataques a representantes de partidos de esquerda que sempre estiveram na linha de frente das mobilizações populares, dão o que pensar.
O jornalista e estudante de Filosofia da USP, Artur Scavone lembra, a propósito, que “a explosão das massas enraivecidas com suas mazelas pode conduzir a muitas coisas, progressistas ou fascistas”.
Realmente, movimento de massas sem pauta de reivindicações não deixa espaço para o diálogo e nem canaliza forças para um horizonte transformador. Tudo bem, as manifestação vem chamando a atenção do poder político, fazendo com que as lideranças se espertem e comecem a tomar medidas emergenciais para resolver um monte de demandas reprimidas. Mas a questão é bem mais complexa do que parece. Confesso que me assusta a possibilidade de desmoralização total e irremediável do sistema partidário nacional, que é ruim e corrompido, mas não pode simplesmente ser varrido do mapa, sem que a própria sociedade o submeta a um processo de depuração pelo legitimo mecanismo do voto. Democracia sem partido não existe, é ditadura. E essa manifestação implícita de saudade da ordem e progresso por meio da baioneta, confesso, me provoca calafrios.
Deixo claro que sou a favor dessa onda de protestos, chego a me entusiasmar com a multidão tomando conta das ruas, mas de repente, me pego pensando, com apreensão, nessas manifestações pontuais de violência e de intolerância social, à moda skinhead. Isso é realmente de tirar o sono.
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