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Que o juiz seja juiz e não justiceiro


A jornalista Tereza Cruvinel (Rede TV e portal Brasil 247)  lembra que ao autorizar a divulgação da conversa entre Lula e Dilma, o juiz Sérgio Moro alegou interesse público. E acrescentou que os governados têm o direito de saber o que fazem (inclusive na intimidade) os governantes.
Tal posição manifestada pelo magistrado da Lava-Jato torna intrigante o seu desinteresse pelas revelações da Odebrecht , cuja lista de beneficiários de um sistema de distribuição de “caplilés”  elenca mais de 200 nomes, de quase todos os partidos, inclusive do PSDB , que tomou o lugar do PT no papel de vestal. A lista é importante e precisa ser investigada, não para execrar fulano ou cicrano , mas como um passo importante para que enfim, a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e a Justiça comecem a desnudar  o sistema dominante, que é ilegal e viciado, de financiamento privado de campanhas. Enfim, desnudar uma prática deletéria que predomina na política brasileira não é de hoje.
Ora, se os governados tem o direito de saber tudo, até as intimidades, dos governantes , porque não jogar luz sobre a escuridão do sistema de financiamento eleitoral, causa maior da corrupção no setor público ,  que se tornou endêmica no Brasil?
Diz Cruvinel que “ se o objetivo é passar o país a limpo, tal sistema precisa ser conhecido  para ser desmontado e substituído.  Moro, em seu já muito citado artigo sobre a Operação Mãos Limpas da Itália, refere-se  à necessidade de “deslegitimação” do sistema partidário que lá estava fortemente associado à corrupção. Já a Lava Jato parece querer deslegitimar apenas uma parte do sistema partidário,  composta pelo PT e partidos aliados”.
Essa parcialidade pode abalar a credibilidade do juiz que tanto orgulha (e com razão) os maringaenses. Confesso que também sinto uma ponta de orgulho por ser da minha cidade o magistrado que “botou pra quebrar”, ainda mais sabendo que trata-se do filho de um ex-professor meu, por quem eu tinha grande apreço.
“A divulgação da lista iluminaria uma parte do porão. Mas a “colaboração definitiva”, expressão cunhada pela Odebrecht para indicar a disposição de seus dirigentes de falar tudo o que sabem, e certamente sobre todos, é fundamental para o completo desvelamento do esquema”,  Observa Tereza Cruvinel que,  ao contrário do que possam pensar alguns apressados PTfóbicos, não tem qualquer simpatia pelo Partido dos Trabalhadores.

Como jornalista e cidadão que alimenta o desejo de ver a corrupção, o clientelismo e a hipocrisia varridos da política brasileira, torço, naturalmente, para que Sérgio Moro prossiga na sua tarefa, de magistrado e não de justiceiro. É como magistrado, aplicador das leis e da Constituição contra todos os atingidos pela Lava-Jato e que comprovadamente delinqüiram, que eu gostaria de ver Sérgio Moro entrar para a história. Infelizmente, o pouco empenho que ele tem demonstrado de punir lideranças políticas que não sejam do PT ou de partidos aliados do governo, me faz ficar com um pé atrás, esperando o desfecho da sua saga para só então, me aliar aos que o admiram.

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  Sérgio Moro deu entrevista à CNN e mostrou-se despreparado e por fora de tudo quando foi instado sobre problemas sociais. Não consegue se aprofundar em nada, não vai além do senso comum, seja qual for o tema abordado. Ele só não é tão raso quanto seu ex-chefe Bolsonaro, mas consegue ser pior do que o cabo Daciolo. O papo do ex-juiz tem a profundidade de um pires. Essa é a terceira via que a Globo e certos setores da elite e da classe média metida a besta defendem?