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O PT e o pecado do pregador


O PT surgiu , e surfou  durante muito tempo, numa  onda que quebrava na praia , batizada pelos surfistas  da política de “moralidade pública”. O Lula das greves do ABC criou o partido com o assessoramento qualificado de figuras exponenciais da  esquerda e da democracia cristã, casos de Francisco Wefort, Marilena Chauí , Plínio de Arruda Sampaio, Helio Bicudo  e um pouco mais adiante, o sociólogo Florestan Fernandes, o mais notável dos marxistas brasileiros.
Sobre Florestan, que tive a honra de entrevistar para a revista POIS É quando ele esteve em Maringá para uma aula inaugural na UEM, há fato interessante a registrar no que diz respeito ao seu ingresso na política partidária. Isso me foi contado por ele próprio, quando  perguntei : “O que explica um intelectual de esquerda, marxista de quatro costados  ingressar num partido político , disputar uma eleição e praticamente, sem fazer campanha, se eleger deputado constituinte?”.
A explicação estava toda na importância que Florestan dava à Constituinte de 1988 e que, após a visita de Lula e Plínio em sua sala na USP,  foi convencido a assinar  ficha de filiação no PT. A forma de convencimento foi um capítulo à parte:
“Professor, vim lhe convidar para entrar no PT e disputar as eleições do ano que vem, porque avaliamos que só os estudantes universitários de São Paulo o elegerão com um pé nas costas”,  incentivou  o então líder metalúrgico. “O que esse partido me oferece para que eu nele me filie?”,  indagou Florestan. Sem pestanejar, Lula  deu uma resposta surpreendente: “Oferece nada não,professor. Pelo contrário, lhe tira, porque o senhor terá que pagar o dízimo”. Rindo da franqueza chão-de-fábrica  do líder metalúrgico, Florestan esticou o braço direito: “Então este partido me serve, me dê cá a ficha”.
O PT, com o professor Florestan na cabine de comando, ajudou o timoneiro Ulysses Guimarães a conduzir o transatlântico  a um porto seguro, costurando avanços sociais que  acabaram debatidos e aprovados. Os avanços estão hoje sintetizados nos artigos e parágrafos da Constituição Cidadã, que versam sobre  as responsabilidades do estado para com a seguridade social.
O PT , apesar de uma certa soberba que o colocava no cenário político brasileiro como vestal, escalou a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2003 e lá se encontra até hoje. Chegou chegando com o próprio Lula, gostemos ou não, o maior líder popular do país desde Getúlio. O PT de Lula, que no caminho se perdeu e por isso perdeu alguns de seus fundadores, caso de Plínio, Bicudo e Wefort , acabou saindo dos trilhos.
 Compreensível , então, que um partido que  antes de chegar ao poder tanto falou contra a corrupção e o fisiologismo, seja odiado e execrado quando se nivela ao que há de pior no espectro partidário.
Apesar desse nivelamento por baixo, inquieta essa paranóia coletiva de uma ameaça comunista no Brasil e a forma seletiva como a mídia trata os casos de corrupção levantados e apurados nas diferentes operações da Polícia Federal e do Ministério Público. A operação mais notável e de efeito devastador contra o PT vem sendo a Lava-Jato, da qual não tem escapado quase nenhum grande partido, embora só ao PT esteja reservada a chuva de ovos e tomates. E por que isso?
 “Ocorre que o pecado do pecador, todos perdoam, mas  para o pecado do pregador não tem perdão”, costuma dizer Ciro Gomes, o  paulista de Pindamonhangaba que se notabilizou como político do Nordeste. O que isso quer dizer? Quer dizer , não, simplesmente diz :  antes de subir a rampa do Planalto, o PT se julgava detentor do monopólio da ética e da moralidade. Mas, em nome de um projeto egoísta de poder,  acabou entrando na pocilga e sujando suas vestes brancas. Isso é imperdoável mesmo.

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