. Por José Augusto, no Conversa Afiada
Quero voltar ao 24 de agosto de 1954 para contar de novo,
sem a necessidade de qualquer comentário, um episódio daqueles dias. No auge
daquela campanha, a mídia se mobiliza contra Getúlio, o jornalista Carlos
Lacerda fala contra ele toda noite pelas duas únicas TVs em funcionamento no
Brasil, uma no Rio e a outra em São Paulo, ambas de propriedade do Rei da Mídia
de então, Assis Chateaubriand – um monopólio privado absoluto. A onda avança,
manifestos militares exigem a renúncia de Getúlio e no auge da crise a
chantagem e seu preço são anunciados sem meias palavras.
Assis
Chateaubriand, que comanda o linchamento midiático de Getúlio, tem um encontro
com o General Mozart Dornelles, subchefe do Gabinete Militar da Presidência da
República, de quem era amigo pessoal desde a Revolução de 30, quando se
conheceram, Mozart combatente e Chateaubriand jornalista. É Mozart que procura
Chateaubriand, sem Getúlio saber, e pergunta por que tanto rancor, tanto ódio
na campanha das televisões, das rádios e jornais fortíssimos da rede dos
“Associados” de Chateaubriand em todos os Estados e de sua revista
ilustrada O Cruzeiro, que vende meio milhão de exemplares por
semana.
Chateaubriand
não faz cerimônia, faz seu preço:
-
Mozart, eu sou o maior admirador do Presidente, eu adoro o Presidente. À hora
que ele quiser, eu tiro o Carlos Lacerda da televisão e entrego para quem ele
quiser... É só ele desistir da Petrobrás.
É só
ele desistir da Petrobrás...
O
General, chocado com a crueza da proposta, volta para o Palácio do Catete, sede
da Presidência da República, onde encontra o Ministro da Justiça Tancredo
Neves, conta o episódio e pede uma opinião: deve contar ou não a Getúlio sobre
a proposta de Chateaubriand?
-
Acho que você deve contar – responde Tancredo. – O Presidente precisa saber
disso. Mas nós dois sabemos de uma coisa: o Presidente morre, mas não desiste
da Petrobrás.
Getúlio
não desistiu – e o Brasil tem hoje o Pré-Sal, tão ameaçados neste agosto, o
Pré-Sal e a própria e sessentona Petrobrás, quanto a Petrobrás recém-nascida no
agosto de Getúlio na crise de 54.
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