Os bolsominions
andam apelando feio em relação a Lula. São baixarias que até poderiam ser tidas
como normais, considerando o clima de radicalização entre os dois extremos, que
parecem se agravar a cada dia. Poderiam sim ser normais, mas caso as postagens
não estivessem sempre carregadas de preconceito, ignorância e fundamentadas nas
mais deslavadas (e criminosas) mentiras.
A coisa como está só
acirra o ódio no ambiente de Fla x Flu em que vive o país. Extremos não
prestam, dividem a sociedade, afastam parentes, criam inimizades
injustificáveis. A crítica política é bem vinda e aceitável. Acho que Lula merece
criticas (e muitas críticas), porque escorregou em coisas que não poderia ter
escorregado, ainda mais sendo ele, como era quando chegou à presidência,
esperança de mudança radical de paradigmas.
Quanto a Bolsonaro,
a crítica (recorrente) a ele é política, mas também pessoal, porque ,
convenhamos, Bolsonaro foge a qualquer padrão ético e moral que se possa
imaginar. O problema é que os bolsonaristas não admitem qualquer questionamento
ao "mito", pois estão cegos com relação aos mal feitos da família, envolvida
até a medula com milícias cariocas.
Comentários
Períodos de grandes mudanças provocam uma insegurança generalizada em relação ao futuro. Há insegurança social, econômica e política, e uma necessidade de buscar grupos de afinidade, de autoproteção, uma referência que sirva de âncora em meio à tempestade.
São momentos que tornam as massas suscetíveis a duas espécies de discursos mobilizadores: o da solidariedade e o do ódio.
Nos anos 30, a humanidade foi salva porque, nos Estados Unidos, o New Deal, de Roosevelt, conseguiu mobilizar o melhor da sociedade americana, em um esforço de unir o país pela solidariedade. Na Alemanha Nazista, uniu-se pelo ódio.
Na eleição de Obama, enquanto a direita, aliada a grupos de mídia, se valia de métodos científicos para disseminar o ódio e o preconceito nas redes sociais, a reação surgiu nas próprias redes sociais por grupos de militantes, voluntários, ajudando na vitória de Obama e na derrota do modelo Fox News.
No Brasil, no início das grandes mudanças trazidas pelas redes sociais, os jovens progressistas foram os primeiros a dominar as novas ferramentas de mobilização social. Era a rapaziada que participava do Fórum Social Mundial, que organizou o Movimento do Passe Livre, a fantástica ocupação das escolas secundárias, movimentos pioneiros e históricos de utilização das novas ferramentas digitais para mobilização.
Essa jovem militância digital, semente da renovação política, foi jogada ao mar. A direita os criminalizou; a esquerda tradicional fechou-lhe as portas, pelo receio das lideranças já estabelecidas, de perder o protagonismo político.
Com a esquerda abandonando a jovem militância progressista, a direita passou a ocupar o espaço virtual com movimentos tipo MBL contando com assessoria externa e, principalmente, os Bolsonaro, montando sua rede sob orientação da ultradireita americana.
No final do processo, o Congresso foi invadido por uma legião de YouTubers de direita, enquanto a jovem militância pioneira se recolhia em suas bolhas. A renovação política foi feita por fundamentalistas, pornógrafos e oportunistas de diversos quilates brandindo o discurso do ódio e do preconceito.
Ao mesmo tempo, Igreja Católica e esquerdas abandonavam as periferias, deixando-as expostas a evangélicos fundamentalistas, ao crime organizado, e ao discurso de ódio.
Portanto, foram dois os fatores que, nas últimas eleições, levaram ao predomínio da extrema direita: a completa alienação das pessoas em relação às políticas públicas implementadas, e o controle das redes pela ultradireita fundamentalista. E não foi um fenômeno especificamente brasileiro.
"Essa jovem militância digital, semente da renovação política, foi jogada ao mar. A direita os criminalizou; a esquerda tradicional fechou-lhe as portas, pelo receio das lideranças já estabelecidas, de perder o protagonismo político."