"Ao
contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve perder a próxima eleição. Seria
muito melhor para o Brasil que saísse logo e não tivéssemos que aguardar até
janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente deixaria de morrer
estupidamente e o país não perderia mais tempo"
. Marcos Coimbra
Eleição é comparação entre pessoas reais, em um momento real. O que os candidatos são, em si, pode ser secundário, importando mais o saldo que resulta da comparação com os outros. Mas tudo começa pela avaliação do valor de cada um.
Muito antes da decisão de Facchin que devolveu os direitos políticos a
Lula, essa conta já não era favorável a Bolsonaro e seu principal (talvez
único) projeto, de permanecer no poder. Por uma simples razão: as pessoas estão
insatisfeitas com seu governo, têm a sensação de que a vida piorou e não
acreditam que irá melhorar nos próximos meses.
E não há para onde olhar. Do Legislativo, presidido por gente
inexpressiva, não virá nada (salvo o mesmo de sempre, piorado). De um
Judiciário com Luis Fux à frente, tampouco. Quanto ao que pode vir do Governo
Federal, nem Bolsonaro espera alguma coisa.
Tudo que ele faz atualmente sugere que entregou os pontos. É até
possível que, lá em 2019, ainda acreditasse em si mesmo, que conseguiria fazer
um governo decente, pois lhe haviam dito que seria fácil. Não era e foi incapaz
de se reinventar. Teve, por exemplo, que abandonar a pretensão de liderar um
plano nacional-desenvolvimentista e só lhe restou continuar amarrado a seu
ministro da Economia, antediluviano e cascateiro. Da turma de ideólogos de
araque que recrutou para o Ministério, não veio nada. De onde se esperava que
nada viria, como de Sérgio Moro, não veio nada mesmo.
Em sua trajetória política, sempre como deputado eleito por um segmento
limitado, Bolsonaro aprendeu uma lição: pensar só na sua turma, falar apenas
com ela, ignorar quem pensa diferente. Mesmo às custas de escandalizar o resto
do mundo.
Bolsonaro construiu sua carreira sendo um representante do autoritarismo
típico do pensamento militar e policial dos subúrbios cariocas, disparando
ameaças, grosserias e preconceitos contra os mais fracos e os diferentes.
Nunca soube pensar (e não precisou aprender) qualquer coisa construtiva, uma
proposta ou projeto de interesse mais amplo. Fidelizava seu eleitorado
escoiceando mulheres, negros e negras, homossexuais, intelectuais, artistas e
esquerdistas, garantindo nos quartéis os votos para se reeleger (junto com a
distribuição de honrarias a seus irmãos milicianos).
É isso que sabe fazer e foi assim que fez sua pré-campanha a presidente
em 2017. E ficaria limitado ao tamanho dessa parcela minoritária na sociedade
brasileira, caso não se beneficiasse da saraivada de golpes e
intervenções indevidas que marcaram aquela eleição.
Para pensar a próxima, podemos começar voltando ao que o eleitorado fez
no segundo turno em 2018: 39% dos eleitores escolheram Bolsonaro, 32% votaram
em Haddad e 29% se abstiveram, votaram nulo ou em branco.
As quase 58 milhões de pessoas que votaram no capitão terão que se fazer
as perguntas normais em uma reeleição: valeu a pena, foi bom, o voto foi
correspondido? Aconteceu o que elas esperavam, o candidato merece ser reeleito?
A aposta de risco que muitos fizeram (pois ele era mal conhecido pela maioria)
deu certo, era isso mesmo que queriam? A saúde, a economia, o emprego, a renda,
a educação, a habitação, a segurança, o meio ambiente, a ciência, as artes e a
tecnologia, a imagem internacional do país, estão como esperavam?
Eleição majoritária é diferente da proporcional, em que a satisfação
ideológica pode ser suficiente para definir o voto. Mas o capitão parece
ignorar lição tão simples e continua a pensar como se fosse um candidato a
deputado de militares reacionários e policiais truculentos, talvez por ser o
único que sabe fazer. Acredita que coice ganha eleição.
Em 2018, 90 milhões de pessoas não votaram em Bolsonaro. É possível que
algumas lamentem, achando que ele foi uma grata surpresa, tendo se revelado um
presidente admirável, competente e cheio de qualidades. Mas o mais provável é
que a vasta maioria não ache isso.
Ao contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve perder a próxima
eleição. Seria muito melhor para o Brasil que saísse logo e não tivéssemos que
aguardar até janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente deixaria de
morrer estupidamente e o país não perderia mais tempo.
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