Por Helena Chagas
Em Os Divergentes (via blog do Luis Nassif)
Curitiba parece nao querer mesmo sair do mapa midiático, e aproveitou
para comemorar os três anos da Lava Jato, hoje, com uma super-mega-power
operação, a maior da PF em toda a sua história, contra grandes frigoríficos do
país, que teriam pago propina a fiscais do Ministério da Agricultura para fazer
vista grossa à venda de carne deteriorada.
É revoltante saber que estamos consumindo carne podre, misturada com
papelão e produtos químicos. Quem faz isso merece cadeia, e ponto final. Não há
o que discutir quanto ao mérito da operação. Mas também não há como não notar,
mais uma vez, certa movimentação pirotécnica dos investigadores da Carne Fraca,
que estão sob a jurisdição de um colega do também paranaense Sergio Moro, o
juiz federal Marcos Josegrei.
É aí que a coisa pega, nas precipitações que podem levar a informações
que não se confirmam, jogando tudo e todos na mesma vala e produzindo
danos às vezes irreparáveis em reputações de pessoas e empresas. O nome do
ministro da Justiça, Osmar Serraglio, por exemplo, começou a rolar desde cedo
nos onlines como suspeito da Carne Fraca por ter sido grampeado em conversa com
um dos acusados, a quem chamou de “grande chefe”. A investigação, porém, nada
apurou contra ele, segundo delegados e procuradores, que explicaram que ele não
é investigado no caso.
Da mesma forma, os investigadores informam que o dinheiro da propina dos
fiscais agropecuários ia, em parte, para o PMDB e para o PP. É totalmente
lógico e provável que isso tenha acontecido, para quem conhece esses partidos.
Mas eles não sabem, ou não dizem, quem recebeu o dinheiro, como e nem quanto.
Com isso, estão todos os ex-ministros – a maioria do PMDB – e dirigentes do
Ministério da Agricultura nos últimos anos sob suspeita. É justo?
Certamente não, assim como não são também justos os vazamentos diários e
seletivos que jogam na mídia nomes da Lista de Janot – cujo sigilo agora está
sob a guarda do STF -, juntos e misturados, sem dizer do quê estão sendo
acusados. Como se sabe, entre os crimes listados há desde caixa 2 em sua
modalidade mais simples até corrupção pesada.
Do outro lado do balcão, o dos investigados, a reação causa perplexidade
e pode acabar por dar razão aos exageros dos juízes e procuradores que prendem
antes e perfuntam depois. Em Brasília, investigados e investigadores do
primeiro escalão da República se reúnem diariamente para tramar saídas para
garantir a sobrevivência dos acusados na Lava Jato. Eles próprios vêm a público
defender uma reforma política a toque de caixa, instituindo soluções polêmicas,
como o financiamento público das campanhas e a eleição em lista fechada para
deputados, com o claro objetivo se salvar a própria pele.
Acusados e julgadores confraternizam, ministros palacianos incluídos na
Lista de Janot agem como se nada estivesse acontecendo, o Congresso trama
anistias para caixas 1,2 e 3 e a vida segue.
Entre a sanha pirotécnica de uns e a desfaçatez de outros, está o
cidadão perplexo e a cada dia mais descrente nas instituições e em seus
representantes. Nitroglicerina pura.
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