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A morte do guerreiro


Eu adoro boteco. Eu tomo cerveja, tubaina, sodinha... Eu amo boteco e seus frequentadores. Eu pago cigarro, pinga e cerveja para alguns. Pipoca, paçoquinha, pra garotada. Sempre com dinheiro, ganho com meu trabalho.
Eu adoro os pedreiros, pintores, coletores de lixo, catadores de recicláveis, mulheres com suas criancinhas e suas carroças cheias de papelão, andarilhos. Eu cultuo essa gente. São meus.
Dos meus dias de fome, dos meus dias de luta e meses de choro, à cada noite, quando deitava no colchão com a barriga vazia. Tempos de sofrimento, tempo de mandar tudo à merda e desistir.
O pouquinho que tenho hoje eu reparto com esse pessoal aí.
Eles são os meus escolhidos. Meus mentores, meus mestres, meus iguais. E não tenho vergonha nenhuma de amá-los.
Lukas (1962 - 2011)

. Do Bar do Bulga

Era mais ou menos 20h30 quando recebi a ligação do Marcelo Bulgarelli, um dos amigos mais chegados do cartunista Lukas. "Messias, o Lukas acaba de falecer", disse-me com voz embargada. Na hora fiquei sem saber o que dizer e o que pensar. Lembrei-me então de uma entrevista que fiz semana passada com o oncologista Ricardo Caponero, um dos maiores especialistas em câncer do país,quando ele me disse:"o doente terminal pode ter uma morte mais sofrida ou menos sofrida, dependendo do seu temperamento, do seu estado de espírito, da sua fibra para enfrentar a morte. Há pessoas que não fogem da luta e nem tentam se enganar. Essas, geralmente, começam logo que se dão conta da gravidade do problema a arrumar as malas. Gente assim, deixa a vida com demonstrações claras de coragem e um espírito de luta próprio dos guerreiros".
Pois é, Lukas foi um guerreiro o tempo todo. Desde que se internou pela primeira vez, manteve a esperança na vida e a certeza de que não seria um tumor maligno a lhe exterminar a criatividade e o humor.Tal qual Darcy Ribeiro, morreu sabendo que teria pouco tempo de vida, mas determinado a continuar criando. Darcy fugiu do Hospital para terminar seu último livro; Lukas não tinha condições físicas para isso, mas jamais deixou formatar na cabeça, os seus belos cartuns.
Marcos Cesar Luckazewiski fez história em Maringá, como também o fizera José Carlos Struett, como continua a fazer o amigo Kaltoé. Lukas tinha os olhos no cotidiano da sua cidade,cujas mazelas eram retratadas com fina ironia. Um cartum de Lukas valia por mais de mil palavras.
Que Deus o tenha em bom lugar, guerreiro LUkas.

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