. Por Fernando Brito
Adriana Fernandes e Fernando Nakagawa, no
Estadão, mostram como é hipócrita a discussão sobre o imposto sindical,
revelando que um decreto do governo Temer deu um “jeitinho” de compensar
sindicatos, federações e confederações empresariais da agricultura com parcelas
das contribuições que o setor faz às entidades do “Sistema S”, tal como já está
acontecendo em outras áreas da atividade econômica.
É, claro, uma apropriação
indevida de recursos que não se destinam a isso e que, nem de longe, o outro
pólo sindical, os trabalhadores, possuem para enfrentá-los.
O que é hoje o “Sistema S” vem do final da
Segunda Guerra, quando o empresariado – basicamente, o industrial – liderado
por Roberto Simonsen e Euvaldo Lódi quis fazer frente a dois problemas: a
crescente falta de mão-de-obra qualificada para a indústria, pois havia caído a
chegada de imigrantes europeus ao Brasil e, ao mesmo tempo, dominar o colchão
das relações sociais representando pelo ensino técnico e assistência social,
além da promoção de lazer e cultura.
O ministro da Educação de
Vargas, que depois virou um udenista que pensava (sim, isso havia) opôs-se
fortemente a isso, defendendo a formação de uma rede de escolas técnicas
estatais. Embora fizesse várias (e de boa qualidade, como o hoje Cefet do Rio,
antiga Escola Técnica Nacional, de 1942), o grupo empresarial obteve a criação
de uma contribuição obrigatória das empresas para sustentar, inicialmente, as
duplas Senai/Sesi e Senac/Sesc, de onde vieram os outros “S”.
Agora, com o dinheiro do sistema liberado para
a Confederação Nacional e para as federações patronais da agricultura,
consuma-se e formaliza-se o que todo mundo sabia: a atividade sindical do
patronato é financiada pelas verbas do Sistema S que, são, afinal, obrigatórias
e de natureza paraestatal.
Claro, o sindicalismo patronal é “limpinho e
cheiroso”, como estamos vendo no caso escabroso do Sesc do Rio de Janeiro e de
seu presidente Orlando Diniz, presidente da Federação do Comércio do Rio de
Janeiro, preso sob a acusação de desviar mais de 10 milhões de reais de
recursos públicos provenientes do Sesc/Senac, por meio de notas fiscais e de
repasses a pessoas de confiança do ex-governador Sérgio Cabral.
Máfia sindical, claro, só existe entre os
trabalhadores. A dos empresários, claro, “não vem ao caso”.
Comentários