Por Roberto Romano -
A cada novo segundo
fica bem claro que está sendo definido no Brasil uma calamidade ética,
política, econômica, diplomática, ambiental, societária, cultural. E a cada
novo instante fica bem claro que a culpa não pertence apenas ao fascista no
palácio do Planalto. Classe média, "elites" parasitárias, políticos
reacionários e corruptos, juízes coniventes, promotores e procuradores idem,
"empresários"e todo tipo de rufiões nos alertam para um passado não
dissolvido (basta ver as notícias de Santa Catarina, com as suas piscinas
enfeitadas com suásticas, o genitor da governadora, etc) : as SA batendo em
judeus pelas ruas de Berlim e fazendo grandes obras de terror contra os
democratas. A culpa pertence também aos juristas que apoiaram o golpe de 2016,
aos jornalistas vendidos ou fanáticos da extrema direita. Last but not least,
aos pastores e padres blasfemos que fizeram arminha em seus templos, que
deveriam servir a Deus e apenas a Ele. Já contei aqui mas repito. Quando estive
com meu orientador, Claude Lefort, para conversas antes de minha volta ao
Brasil, pergunte-lhe como era a posição do povo francês quanto ao anti
semitismo. Eles eram mesmo numerosos, os anti semitas? Ele estava em seu
escritório. Mas olhou para todos os lados, suspirou e me disse quase sussurrando
: "Eles todos eram". Eles todos eram. Certa injustiça do mestre, pois
não foram poucos os que não eram anti semitas e servidores de Hitler. Mas a
massa assim constituída era imensa. E tal massa serviu aos planos dos invasores
assassinos e aos interesses dos canalhas de Vichy. Quando ouço Bolsonaro e suas
falas cafajestes e debochadas, quando vejo o que ele faz sem encontrar
resistência séria mas obtendo aplausos, quando vejo as Forças Armadas cúmplices
de matança dos concidadãos, quando enxergo padres e pastores louvarem o Senhor
pelo dom de Bolsonaro, quando assisto na TV críticas acovardadas diante do
tirano, quando noto o STF inerme face ao descalabro, quando.....não continuo a
enumeração porque a náusea me vence....lembro do mestre Lefort ""ils
étaient tous....". Tous...RR
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Roberto Romano
da Silva é acadêmico, professor titular (aposentado) de Ética e Filosofia do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas
Comentários
Não é possível haver democracia sem os mecanismos de ordem legal que a assegurem contra os picaretas golpistas de sempre. Não é possível tolerar conspirações e atentados à luz do dia contra a ordem democrática. A anomia tem origem na ausência de leis que deem consistência e solidez ao estado democrático.
Pra mim, os militares entreguistas são traidores do povo brasileiro, inimigos da Democracia. Dois exemplos: enquanto o povo é atacado por um vírus mortal, um general no Ministério da Saúde e um almirante na Anvisa agem contra a saúde do povo. Penso que a Academia Militar das Agulhas Negras forma oficiais com espírito entreguista, homens sem honra pra carreira. São mais de 6.000 militares ocupando postos civis no governo Bolsonaro.
Nunca se pode esquecer o agradecimento público pela eleição que Bolsonaro fez ao general Villas Boas. O vice, general Mourão, tem desprezo pela formação étnica do povo brasileiro. O general Augusto é um infame fascistóide que cometeu crimes no Haiti e foi afastado pela ONU. O general Ramos, o general Etchgoyen, o general... Nossos militares são uma fraude. Não seria melhor eliminarmos as Forças Armadas ?
Nossa ideias são melhores, nossos objetivos são mais justos, mais solidários e mais amplos do que o dos nossos adversários. O projeto dos nossos adversários é pior, é autoritário, é incivilizado e insolidário, é uma regressão a toda prova, e pior que o projeto é sua execução.
Temos que recuperar a confiança e a crença em nosso projeto de pais se NÃO ficaremos assistindo esse horror todos os dias como temos feito faz já 7 anos. Baixamos mais que a cabeça e o resultado está ai bem na nossa cara. Essa foi a lição que o povo boliviano soube aprender. Não podemos continuar dar de comer para esses cachorros raivosos. O voto e nossa mobilização e união é nossa unica arma, é nossa única força, sem o poder democrático não temos como enfrentar os poderes de fato. Essa é a única saída. Retomar as instituições através das vitórias democráticas.