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Só de sacanagem



Protógenes Queiroz, delegado da Polícia Federal e ex-responsável pela Operação Satiagraha botou pra quebrar numa palestra na PUC de Brasília. Relata Paulo Henrique Amorim no CONVERSA AFIADA:
"Durante a palestra, Protógenes fez questão de repetir que a Operação Satiagraha rachou o Brasil em dois: o lado dele, com a maioria, e o de Dantas, com os poderosos. E aí aproveitou para criticar o habeas corpus concedido ao banqueiro ontem pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF):
- Daniel Dantas tumultua tudo e sempre acaba conseguindo sair de foco. A busca na minha casa foi perto da liberação de Dantas de propósito. Isso faz parte da patranha armada pelo Supremo. Lá existe o pacto do silêncio -, acrescentou.
Protógenes falou livremente sobre o que queria. Foi irônico, criticou, falou da família, e garantiu que volta à área de investigações da Polícia Federal no próximo dia 26. E diz que “há um temor pela sua volta”.
Ao final da palestra, ele levantou o tom de voz e declamou o poema "Só de Sacanagem", de Elisa Lucinda:
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

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