Tomo emprestado da professora Marta Belini este texto de Clarice Lispector que Marta postou no seu blog. É oportuna a reprodução, porque estamos numa época em ninguém é ninguém, a não ser um número. Sou o número do meu CPF, da minha RG, do meu cartão ponto,do meu Renavan, do meu CEP. E na disputa eleitoral também vivemos sob o império dos números. Serra arrola números, que vem sempre enrolados em bandeiras de percentuais. Dilma desfia rosários de números para falar do bolsa fmaília, para loas ao Pre-Sal.
Clarice faleceu em 1977. Portanto, deve ter escrito o texto abaixo numa época em que a gente quase não cruzava por aí, com 171.
Mas, noves fora, nada, vamos à Clarice, porque ela sim, sabia das coisas, inclusive da mágica perversa dos números:
"Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo. Porque a partir do instante em que você nasce classificam-no com um número. Sua identidade no Félix Pacheco é um número. O registro civil é um número. Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente falando você também é. (...) Seu prédio, seu telefone, seu número de apartamento - tudo é número. (...)
Nós não somos ninguém? Protesto. Aliás é inútil o protesto. E vai ver meu protesto também é número"
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