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Tostão explica porque Pelé é eternamente rei


O craque Tostão, que encantou o mundo na Copa de 70 junto com Pelé,começa ressalvando que Pelé não tinha defeitos, Edson Arantes é cheio deles. Mas resume, como ninguém, a verdadeira razão pela qual jamais alguém questionaria o reinado do maior jogador do mundo em todos os tempos, que hoje complea exatos 70 anos de idade:

"Pelé foi o maior jogador do mundo de todos os tempos porque tinha, no mais alto nível, todas as virtudes que um craque de sua posição precisa ter.
Hoje, por ser um analista, procuro um defeito técnico em Pelé e não encontro. Pelé era muito habilidoso, técnico, criativo, forte, veloz, autoconfiante, ambicioso e aguerrido. Quanto mais difícil a partida, mais ele pedia a bola e se agigantava.
Além de tudo isso, Pelé, literalmente, enxergava mais do que os outros. A estrutura anatômica de seu globo ocular, com um olhar saliente e expressivo, aumentava seu campo visual.
Pelé parecia enxergar até o que estava às suas costas.
Antes de a bola chegar a seus pés, Pelé me olhava, parecendo dizer o que ia fazer. E fazia. Tentava acompanhá–lo. Não era fácil. A comunicação analógica, por meio de gestos, de olhares e de movimentos do corpo, é menos exata, mas muito mais ampla do que a comunicação digital, com palavras.
Pelé tinha o que os especialistas chamam hoje de inteligência cinestésica. Parecia ter um megacomputador no corpo. Em fração de segundos, mapeava tudo o que estava a sua volta, observava os movimentos e calculava a velocidade da bola, dos companheiros e dos adversários. Prefiro chamar isso de saber inconsciente, que antecede ao raciocínio lógico. Ele sabia, sem saber que sabia.
As pessoas que não viram Pelé jogar ao vivo, no gramado ou na televisão, acham que seu auge foi na Copa de 1970. Seu esplendor técnico foi de 1958, com 17 anos, até mais ou menos metade da década de 1960.
Antes da Copa de 1970, muitos diziam que Pelé estava pesado e que não conseguia jogar várias partidas seguidas com a mesma exuberância. Pelé sabia disso e se preparou para se despedir da seleção com grandes atuações e com o título mundial. Foi o que aconteceu.
Pelé era um bom companheiro, no campo e na concentração. Gostava de ficar no quarto. Não tinha estrelismo nem privilégios. Tratava bem a todos. Durante o jogo, recebia orientações, broncas e não respondia com rancor.
Fora de campo, Pelé atendia a todos com um largo sorriso. Nunca o vi triste nem chateado".

PS: Sinceramente, me julgo um privilegiado por ter visto Pelé jogar, ao vivo e a cores. Foi no Estádio Willie Davids, salvo engano. em 1968, quando o Santos ganhou do timaço do Grêmio Esportivo Maringá por 11 a 1. Pelé jogou meio tempo, fez um gol depois de ser vaiado por dar a impressão que não estava nem aí com a partida. Mas mexeram com seus brios e ele pegou uma bola na intermediária, saiu driblando, entortou seu marcador Pinduca, que não sei por onde anda, mas se for vivo ainda, até hoje procura entender como Pelé escapou da sua marcação sem que ele não percebesse a fuga.
Histórias sobre Pelé é o que não falta, mas a mais saborosa ouvi no Programa do Jô Soares contada pelo Orlando Duarte, comentarista esportivo de várias Copas. Orlando conta que, num jogo Vasco x Santos no Maracanã, a torcida vascaína vaiava Pelé, perguntando em coro: "Cadê o rei?". Fontana, zagueirão do Vasco (foi reserva de Brito em 1970 no México) provocava: " Brito, você viu um rei por aí?". O Santos precisava do empate para ser campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa e perdia de 2 a 0 até 40 minutos do segundo tempo. Em 5 minutos Pelé fez os dois gols do título. No segundbo , driblou toda a defesa vascaína, saiu procurando Fontana e quando aquele grandalhão pintou na sua frente, meteu a bola no meio das pernas dele, saiu na cara do goleiro Andrada e pimba. Antes de socar o ar, como era sua característica, Pelé correu para o fundo da rede, pegou a pelota e a entrgeou para Fantana, com a seguinte recomendação: "Leva essa pra sua mãe e diga que foi um presente do rei".

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