Pular para o conteúdo principal

Mau gosto


Li no site da Arquidiocese de Maringá,após ver postagem (chamada) no site do Rigon, este ótimo artigo do padre Orivaldo Robles. A abordagem, longe de ser moralista, é interessante e vale a pena ser lida. Por isso, faço questão de reproduzir o texto na íntegra:

"Tenho certeza que, ao final desta leitura, serei malhado. Já aconteceu antes. Padre se abre a boca, vem paulada na moleira. “Entendidos” de plantão sacam requentadas fichas da Inquisição, da pedofilia de clérigos e coisas que tais. Fatos que ouviram, embora nunca revelem interesse por conhecer. Melhor deitar falação inconseqüente do que investigar com serenidade. Estudar dá trabalho. Além do quê, vai que a pesquisa chegue a conclusão diferente daquela que a gente aceita. Aí, toca mudar de opinião e enrolar a bandeira agitada com tanto gosto.

A verdade, não custa lembrar, independe de preferências. Por si mesma se impõe. Muita gente, porém, tenta o malabarismo de montar, sobre fato único, várias verdades excludentes entre si. Ajeita a realidade àquilo que lhe convém. Será que exatidão factual só tem valor para peritos, como nossos Reginaldo Benedito Dias e Ângelo Priori? Os outros podem usar uma História light descompromissada da objetividade?

No atropelo em que vivemos, é mais rápido engolir versões do que investigar fatos. Sujeitos à autocracia do mercado, esse deus feroz e sem rosto, os veículos de massa perseguem as variações sociais, que se alternam com rapidez de dar vertigem. O humor mercadológico agita um tema ou expõe um produto enquanto há consumo. Logo o substitui por outro mais recente. Os meios de comunicação se nutrem de contínuos dados novos. Inusitados ou impactantes, melhor ainda. Se criam polêmica, aí é sopa no mel.

Caso de capa da Folha de São Paulo, quarta-feira passada, dia 6. No centro, foto com a chamada: “Loja vende sutiã com enchimento para meninas de 6 anos”. No caderno Ilustrada, coluninha de 5,5 x 4,0 cm, em 15 linhas, informa que a peça vem com calcinha, ao preço de R$ 15,90 o conjunto.

Não me considero falso moralista. Nem puritano nem arcaico. Tampouco venho de outro planeta. Mas alguém pode me explicar que necessidade tem de sutiã uma garotinha de seis anos? É ou não tremenda forçada de barra com o único objetivo de ganhar dinheiro? Que reações vai provocar na mente de uma menina dessa idade o uso de tal peça? Gente, não se atropela impunemente o ritmo natural da vida. Estamos lidando com pessoas humanas, não com ratinhos de laboratório. Qual o proveito de irresponsavelmente queimar etapas do desenvolvimento infantil? Profissionais sérios de distintos campos da ciência se esgoelam contra o hábito de tratar criança como um adulto em miniatura. Pais há com olhos voltados só para lançamentos da moda. Mas é unicamente isso que importa?

Quanto mais alto o nível socioeconômico, revelou-me médico da área, tanto mais cedo ocorre a menarca. Além de outras causas, também por conta do excesso de estímulos que hoje recebem, há menininhas menstruando aos nove anos. Não será fruto da desinformação de pais, que acham lindo manipular crianças como clones de adultos? Vivemos numa sociedade em que, a pretexto de liberdade ou de progresso, gente grande se empenha em despertar, por todas as formas, o erotismo infantil. Depois, com cínica indignação, vocifera contra barbaridades que vêm cobrir de vergonha e dor a sociedade brasileira.

Muitos se lembram da propaganda do primeiro sutiã, feita há alguns anos. Um primor de criatividade e beleza. A matéria desta semana, ao contrário, revelou um atestado de mau gosto.


. Padre Orivaldo é sacerdote na Arquidiocese de Maringá

Comentários

Prof. Luiz Gonzaga disse…
Também lí e recomendo todos os textos de opinião do padre Orivaldo. vale a pena é um grande oportunidade de formação de opinião e aprendizagem.

Postagens mais visitadas deste blog

Representação absurda

"Os conselheiros do Tribunal de Contas do Paraná julgaram improcedente a denúncia contra o ex-prefeito de Maringá, João Ivo Caleffi (PMDB), e o ex-presidente do Serviço Autárquico de Obras e Pavimentação, Valdécio de Souza Barbosa, oriunda da 2ª Vara Cível. Eles foram acusados de descontar contribuições dos servidores e não repassar de imediato à Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensão dos Servidores Municipais (Capsema) e o Ministério Público queria a devolução do dinheiro e multa. O TCE entendeu que não houve má-fé ou dolo na conduta da prefeitura e do Saop. Na justiça comum, o ex-prefeito também teve ganho de causa". . Do blog do Rigon PS: a representação contra o ex-prefeito e o então presidente do Saop foi feita junto ao Ministerio Publico pela diretoria da Capsema. E sabem por que? Porque em dezembro de 2004, a Prefeitura estava com o caixa vazio e o prefeito precisava pagar o funcionalismo, inclusive o 13º. Aí usou o dinheiro que deveria repassar para a Capsema