Uma aglomeração com milhares de jovens (potenciais estudantes universitários), carros, som alto, cerveja e diversão. Qual o problema? Afinal, trata-se da juventude, fase típica da rebeldia, da ousadia e das opções de vida. Pois é, durante os dias do vestibular da UEM este foi o cenário nas imediações da universidade, que reuniu milhares (milhares mesmo) de jovens buscando a diversão e a confraternização após as provas, mas para isso ocupando várias vias públicas no entorno.
Mas o que fazer com toda esta galera que “resolveu” se concentrar nos bares e repúblicas ali da região? A partir da “reclamação” de moradores inquietados com o som alto e com supostas brigas entre os jovens, o Estado ofereceu a única resposta que tem oportunizado para os jovens: o cacetete da polícia.
Ora, mas alguns poderiam objetar e dizer: ah, mas são filhos de “papai” querendo se divertir e impedir o direito de “ir e vir”: Nada mais falso. O que se viu naqueles dias foi uma pluralidade de “juventudes” que por falta de espaços públicos adequados e opções de diversão, não encontra alternativas a não ser ocupar vias públicas e externalizar seus hormônios e adrenalinas.
Qual o papel da universidade e do Diretório Central dos Estudantes neste processo? Qual o espaço ideal ou necessário para potencializar toda esta juventude numa diversão não hipócrita, como aquela que proíbe o consumo do álcool, mas ao mesmo tempo crítica e cultural?
A alienação a que foi submetida a juventude, torna visível sua incapacidade de estabelecer relações sociais concretas e sólidas, o que faz com que o vestibular se assemelhe com um carnaval fora de época. Falta um projeto cultural de inserção do jovem valorizando seu potencial e energia dessa fase da vida, pois, na UEM não há um espaço de convivência de acadêmicos que torne possível uma sociabilização desses jovens, de maneira que a única alternativa que grande parte opta é a reprodução da lógica da coisificação, da atrofia causada pela vontade de consumir, tão empobrecedora. E quem não se resigna é massacrado pelo consumismo que se torna mais fácil pela força da propaganda de convencê-lo da sua ineficiência caso não se comporte, ou, não obedeça, tal lógica.
Neste sentido, nem a universidade apresenta um espaço adequado, nem o Diretório Central dos Estudantes, em sua atual gestão, apresentam qualquer proposta de alternativa cultural para a juventude em disputa a uma vaga universitária. No máximo, reproduzem, no caso específico do DCE, um rito de diversão típico da sociedade de consumo: vender ingresso para festas em bares fechados com objetivo de lucro.
Qual diversão queremos? Certamente podemos afirmar que a de não estar de acordo com isso tudo, sendo mais uma banda numa propaganda de refrigerantes, ou, de cerveja, não importa, a finalidade é única: esquecer da opressão onde ela se mostra.
Por uma questão de opção do Estado a resposta mais fácil em relação à juventude é aquela que a exclui do acesso ao trabalho, à educação em todos os níveis e de forma pública, gratuita e de qualidade, além de privá-la de políticas de cultura que democratizem as possibilidades de externalização das diferenças, dos gostos musicais, de outras formas de arte e, em lugar de tudo isto, coloca o cacetete da PM como tutor da massa, afinal, foi isto o que se viu e se constatou naqueles dias, uma massa de jovens sem opções alternativas de lazer e cultura tutelados pelo braço armado do Estado, sob o pretexto de defesa e controle da ordem.
A hora é de construir alternativas e acreditar na rapaziada, como já dizia o querido e saudoso Gonzaguinha.
Avanilson A. Araújo, advogado e mestrando em Ciências Sociais-UEL,
e-mail: avanilson@hotmail.com
Hugo A. Alves Araújo, Graduando em Ciências Sócias – UEM,
e-mail: huguim_araujo@hotmail.com
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