A triste aventura
dos Barros começa com o patriarca, Silvio Barros, que foi prefeito de Maringá
pela Arena, aliada do regime militar. Ricardo Barros herdou-lhe a veia
política, assim como seu irmão Silvio Barros II (isso mesmo, a coisa é tão
ridícula que o ultimo sobrenome é o algarismo “II” romano…).
Foi prefeito.
Aliás, um desastrado prefeito. Seu último dia de governo terminou com a
prefeitura de Maringá cercada por funcionários irados em greve. Ricardo Barros
escapou do cerco com uma “tereza” (corda feita de lençóis como aquelas usadas
por presidiários em fuga).
Após uma
interrupção de dois mandatos, seu irmão, Silvio Barros II, tornou-se o terceiro
do clã a eleger-se prefeito (sendo reeleito e fazendo seu sucessor). Assim, os
Barros tomaram a cidade por longos 20 anos.
Sua esposa, Cida
Borghetti, uma curitibana importada, fez toda sua plataforma política baseada
em campanhas contra o câncer feminino, o que lhe angariou votos para toda a
vida … O mesmo ocorreu com sua filha Maria Victoria Barros, formada em
“banqueteria” (a “arte” de servir banquetes) na Suíça (believe it not).
Cida tornou-se
vice-governadora ao lado do desastrado e multi-investigado governador Beto
Richa. Ricardo Barros, que fez toda a campanha de Richa no norte e noroeste do
Estado, foi brindado como Secretário de Indústria e Comércio do Paraná.
Ricardo sempre
trabalhou no sentido de priorizar o privado sobre o público e notabilizou-se no
setor de planos privados de saúde, o que o guindou à condição de escolha do
usurpador Temer em nomeá-lo como Ministro da Saúde, desconstruindo toda a
estrutura pública de saúde, implantando o caos e a barbárie no SUS, na Fiocruz,
na saúde indígena, na produção de medicamentos, etc.
O clã locupletou-se nessa trajetória política de
conservadorismo, e nenhum senso público, o que transpareceu de forma dramática
na festa nababesca de casamento da filha banqueteira Maria Victoria Barros.
Sempre
com espírito arrogante, Ricardo Barros escolheu ele próprio os lugares do
regabofe matrimonial: uma Igreja histórica, a do Rosário, construída pelos
escravos e o Palácio Garibaldi, construído sob a égide dos ideais de Garibaldi.
Ricardo
Barros quis para mostrar que ele pode submeter tudo e todos ao seu projeto
megalomaníaco de dominar politicamente o Estado, que considera um feudo de sua
família e que se sobreporá às demais famílias das capitanias hereditárias. Uma
espécie de Game of Thrones tupiniquim!
Bom,
retornando ao dramático episódio do casamento e da festa de Maria Victoria no
sábado de 14 de julho (no aniversário da Queda da Bastilha): esta data foi
escolhida a dedo para mostrar que Maria Victoria seria uma reencarnação de
Maria Antonieta, mas que, ao contrário, venceria e manteria a Bastilha,
aniquilando os “pretos” construtores da Igrejas, e os anarquistas garibaldinos,
numa metáfora cruel de “venceria o povo”.
Porém,
os sonhos totalitários de Ricardo Barros e de todo seu clã ruíram
fragorosamente: cercados por mais de mil manifestantes, Maria Victoria teve sua
“noite gloriosa” derrotada pela indignação popular. Seu vestido ficou todo
manchado de ovos, lixo de toda espécie e outros líquidos malcheirosos.
Minha
mãe telefonou hoje para uma amiga e recebeu a informação que uma vizinha dessa
amiga tinha estado na malfadada festa. Ainda estava em estado de choque.
Disse que
os manifestantes tiveram roupas, cabelos, maquiagens arruinados. O clima dentro
do salão de festa no Palácio, segundo o relato da vizinha da amiga, era de
terror (semelhante ao que foi tomado por Maria Antonieta e seus lacaios na
distante corte francesa).
Além do
medo, muitos estavam raivosos por causa da incompetência Barrista ao escolher
local inapropriado para desfilar sua “jacuzice” e soberba. Ela relatou que
alguns jovens, filhos da aristocracia decadente curitibana, brigavam com seus
pais repreendendo-os em voz alta por terem amigos envolvidos em corrupção que
os convidavam para este festim diabólico.
Uma
parcela deles lamentava ter que acompanhar os pais conservadores, quando
queriam estar junto com os manifestantes jogando ovos e porcariadas na burguesia
podre que eles próprios representavam.
Some-se
a esse desalento todo o fedor de ovo, urina, lixo e outras cacas mais que tomou
conta do ambiente. De tempos em tempos era aspergido perfumes franceses para
mitigar a pestilência do cheiro.
Ricardo
Barros, para não perder o tino, mandou arrumar os parentes mais próximos para a
foto do álbum e colocou um pseudo-jornalista velho a filmar e narrar uma mesa
nababesca com quitutes proibidos a 99% da população brasileira.
O festim diabólico, misto de Baile da Ilha Fiscal
com a Queda da Bastilha, terminou de forma melancólica, com a burguesia fedendo
em seu mais profundo ser e lançando seus pruridos a todo o país hoje dominado
pela vergonha de um golpe torpe e quase surreal.
. Texto publicado no site DCM (Diário do Centro do Mundo)
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