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Saiu na Folha de São Paulo

"PAC prevê "desfavelizar" área sem favela

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Maringá (PR)

O Ministério das Cidades liberou recursos de R$ 20 milhões para Maringá (a 428 km de Curitiba) desfavelizar um bairro já urbanizado. A obra, que pode chegar a R$ 25,2 milhões com contribuições do governo do Paraná e do município, é anunciada no site do governo federal como parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para urbanização de favelas no Estado.
Na apresentação do projeto, no site do governo federal, fotos de quatro casebres são exibidos como se fossem localizados no bairro Santa Felicidade.
A Folha apurou que três deles não existem em Maringá. O outro, visitado pela reportagem, é a casa de uma catadora de papel em um fundo de vale no Jardim Alvorada 3, na zona norte da cidade. Só que o Santa Felicidade fica na zona sul.
Além de as fotos exibidas não serem do Santa Felicidade, os moradores do bairro (267 proprietários no total) dizem que a prefeitura quer usar a verba do PAC para expulsá-los do local. O prefeito Silvio Barros 2º (PP) nega.
"A gente viveu no bairro em seus piores momentos, sem asfalto e esgoto. Agora que já temos tudo isso, inclusive creche e escola, eles querem que a gente saia porque a região é valorizada", disse Maria Conceição Silva, 62, uma das moradoras transferidos da favela Chácara 15, em 1983, para o local.
Na época, muitas das mulheres trabalharam como serventes no mutirão. "Tivemos dois anos de carência, mas pagamos pelo terreno. Hoje nos querem fora. E falam que é desfavelização. Onde já se viu favela como o nosso bairro? Minha casa tem oito cômodos", disse Tereza Luísa da Silva, 59, que ampliou a casa nos últimos anos.
A professora da Universidade Estadual de Maringá Ana Lúcia Rodrigues, 45, coordenadora do Observatório das Metrópoles (rede nacional de pesquisadores sobre a ocupação das regiões metropolitanas), disse que o projeto da prefeitura é contrário ao Estatuto das Cidades, já que a reurbanização não beneficia a população.
"É um claro processo de segregação da população de baixa renda, ao se propor que uma parcela ou a totalidade dos moradores -não se sabe, porque o projeto é mantido em segredo- deixem seus lares em nome de uma revitalização."
"O prefeito usa a verba do PAC para retirar o enclave pobre de uma região que querem que seja de luxo", disse a advogada Jaqueline Batista Pereira, que defende os moradores".

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