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Para tucanos, neoliberais e cabotinos lerem na cama

Sobre os 15 anos do Plano Real, uma análise interessante do respeitado jornalista Carlos Chagas. O artigo (está no blog do Cláudio Humberto) é imperdível para quem quer compreender as armadilhas que tramaram nas costas do presidente Itamar Franco, para entregar as riquezas nacionais de bandeija ao capital privado (estrangeiro ou nacional). Eis alguns trechos:"
"As comemorações dos 15 anos do Plano Real abrem espaço para um sorridente campeão chamado Fernando Henrique Cardoso, estendendo-se ao mesmo tempo espaço para aventureiros, especuladores e governantes que, a pretexto de combater a abominável inflação anterior, apoderaram-se da economia e das riquezas nacionais. Assim como da memória de seus contemporâneos.
Começa que o Plano Real foi fruto da decisão de um presidente da República hoje propositadamente esquecido pelos que se apoderaram de sua iniciativa. Chama-se Itamar Franco. Foi ele que, depois de duas escolhas fracassadas, impôs a Fernando Henrique a obrigação de abandonar coquetéis e banquetes à sombra do Itamaraty para tornar-se ministro da Fazenda, com a missão específica de debelar a inflação. Era aceitar ou voltar a um mandato terminal no Senado, para o qual não se reelegeria. Nomeado à revelia, quando se encontrava em Nova York, nadou para não naufragar. Teve méritos, é claro, por haver vislumbrado na nomeação a chance futura de tornar-se candidato à sucessão presidencial, bem como por reconhecer que pouco entendia de economia e, assim, convocar gente com capacidade para tentar o impossível. Chamou Pedro Malan, Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Edmar Bacha e outros interessados no sucesso da empreitada, menos para enriquecer suas jovens biografias, mais por vislumbrarem na tarefa a oportunidade de acontecer o mesmo com suas contas bancárias. Não é por acaso que quase todos transformaram-se em mega-consultores e banqueiros de mega-bancos sem correntistas, alguns morando hoje na Inglaterra".

"O Plano Real extrapolou da eficaz mudança nominal da moeda e dos filigranas correspondentes. Ficou óbvio que mais pretendiam seus mentores, a começar por FHC: utilizar o sucesso como gazua para a entrega do país ao “consenso de Washington”, ou seja, permitir a alienação do patrimônio público às multinacionais e ao capital privado nacional - o que deu no mesmo. Era esse o preço a ser pago pelo sociólogo antes socialista para vencer as eleições presidenciais: aproveitar a chance de entregar a economia nacional ao estrangeiro. Mudar a Constituição, derrubar as barreiras que sustentavam a frágil soberania do Brasil - tudo sob o rótulo de Plano Real.

Itamar Franco bem que percebeu o alçapão em que o tinham colocado, mas não dava mais para voltar atrás. Sob resistências de Fernando Henrique, nomeou Rubem Ricupero para o ministério da Fazenda quando da desincompatibização do titular para concorrer ao palácio do Planalto. O embaixador conseguiu olhar mais adiante e percebeu onde as coisas iriam dar. Na mesma hora armaram contra ele, levando-o à exoneração. Quem armou? A aliança entre as elites famintas de sugar o patrimônio público, os tecnocratas sem pátria, ávidos de tirar proveito de seu bem engendrado programa, e os penduricalhos entusiasmados em deglutir as migalhas do jantar da traição nacional. Transformaram num simples episódio jornalístico a trama para afastar Ricupero das decisões finais.

Por certo que agiram com inteligência. Com a posse de FHC, em nome do Plano Real, seu governo entregou todo o sistema nacional de telecomunicações ao capital alienígena, a pretexto da abertura da telefonia celular à população, como se ela fosse mais importante do que o sistema de comunicações por satélite, essencial à nossa preservação como nação independente. Deu às empresas estrangeiras as mesmas prerrogativas da empresa brasileira. Abriu o capital da Petrobrás. Alienou a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional, entre outras empresas estatais. Chegou a extinguir a navegação de cabotagem e paralisou projetos fundamentais para o desenvolvimento da Amazônia e do Pantanal. Suprimiu direitos sociais aos montes. Permitiu a remessa de lucros sem limites para o exterior. Admitiu o ingresso de bancos multinacionais que em pouco tempo dominaram o mercado, direta ou indiretamente".


Por tudo isso não são os vencedores que andam escrevendo a História, apesar de o governo Lula seguir em gênero, número e grau as diretrizes traçadas. Pelo contrário, são os perdedores, já que a atual crise econômica mundial acaba de tornar em frangalhos a conseqüência da efêmera farsa adotada quinze anos atrás em nome do combate à inflação. No mundo inteiro, desfaz-se a ilusão da prevalência indefinida do capitalismo selvagem. O neoliberalismo saiu pelo ralo. O Plano Real foi um sucesso ao debelar a inflação. Mas um fracasso dos perdedores que imaginam valer-se dele para continuar escrevendo uma História ultrapassada".

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